segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

The Drop. Era fácil fazer melhor


Há uma categoria de filmes série B da qual sou um fã confesso. Fora do espectro dos filmes oscarizáveis e a meio caminho da teia de blockbusters, há uma nata de películas que, anualmente, providenciam aquele escape bom de domingo à tarde, algures numa equação entre crime, acção e um protagonista digno desse nome. Por estes dias, enquanto se aguardam ansiosamente todos os lançamentos da época dos prémios, acaba por haver espaço para pôr em dia essa conta de filmes que a Primavera e o Verão não permitiram. The Drop parecia reunir os pontos quase todos: tinha Brooklyn como cenário, uma história de máfia nova e rivalidades velhas e a vertigem do business as usual, predicados que coroava com Tom Hardy no papel principal e com nada menos do que a última aparição do icónico James Gandolfini. Esta casta de filmes que acabei de descrever, cíclicos por definição, padecem, contudo, do mal que é viverem quase sempre no limbo. Nunca são propriamente surpreendentes e o que separa a vulgaridade de um bom achado é um conjunto de pormenores ou, pelo menos, uma ideia feliz. The Drop não é um bom achado.

Acho que um bom ponto de partida para estes filmes é serem descomplexados. Saberem o que são, viverem com isso e tentarem transcender-se naquilo que controlam. É determinante que não se achem muito especiais. O primeiro problema de The Drop começa logo aí: o argumento é presunçoso. Fala do que toda a gente já falou com a languidez e a sobranceria de quem está a inventar a roda. Depois, é um filme demasiado lento. Parece autoritário e contemplativo, parece querer desvirtuar as fórmulas típicas do seu tipo (diálogo vivo, quebras de acção, pulso), mas a verdade crua é que só o faz de forma a mascarar o seu ostensivo vazio. No fundo, fala pouco porque não tem mais nada para dizer. The Drop não tem nenhuma grande ideia, sendo críptico e, às vezes, quase incompreensível... sobre nada (onde emerge toda a alegoria sobre um cão - um pitbull bebé que é um dos pontos altos da narrativa... exclusivamente por ser realmente adorável). No fim, vale o golo de honra, com a sociopatia e o pragmatismo a marcarem pontos. Mas soube a pouco. Ainda mais no momento em que se descobre que o argumentista era nada mais, nada menos do que Dennis Lehane, uma imperial referência que tem no currículo, apenas, uns tais de Mystic River e Shutter Island...

Falhou a estrutura e falharam os papéis-chave. O caso mais peculiar é o de Tom Hardy, que passou ao lado não por culpa própria, mas porque fez exactamente o que lhe pediram. Não me lembro de muitos casos em que um actor se tenha auto-censurado tanto para caber num papel, mas Hardy despiu-se de quase todos os seus traços (intensidade, reactividade, perspicácia), para retratar um homem solitário, aborrecido e imperturbável. Gabo a disciplina e até consigo perceber a caracterização no contexto do objectivo maior, mas é a personagem em si que não funciona, sacrificando uma hora e meia inevitavelmente fastidiosa por um efeito colateral. Gandolfini quase prefiro evitar, bastando-me dizer que não será evidentemente por esta amostra que será lembrado, num papel tão cliché como seria possível. Houve, contudo, uma boa surpresa. O belga Matthias Schoenaerts, conterrâneo e colaborador prévio do realizador Michaël R. Roskam, chegou-se, ele sim, à frente com uma performance digna desse nome, na pele de um delirante criminoso de rua que conseguiu sempre ser perigosamente desconfortável. Fica de referência futura. Noomi Rapace (Prometheus) também acabou por estar bem. Tem uma presença que não é fácil contornar.

Em suma, não se pedia muito e as armas estavam na mão, até melhores do que a encomenda... mas The Drop atirou quase tudo ao lado. Era fácil fazer melhor.

5.5/10

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