Revi o Dark Knight. Um ano depois, continua a exercer sobre mim o fascínio da primeira vez, o que é admirável, de facto. Ainda hoje, vomito o preconceito que se abateu sobre o filme desde o primeito minuto, no que a prémios diz respeito, possivelmente o episódio mais revoltante a que assisti, desde que vejo filmes como gente grande, qualquer coisa de um autismo tão sem paralelo, que acredito ainda viverei muitos anos para presenciar coisa parecida. O Dark Knight é uma obra de arte invulgarmente açambarcadora, dos efeitos às personagens (nem vale a pena tentar tipificar o que faz o Heath Ledger, mas veja-se o que fazem o Bale, o Aaron Eckhart ou o Michael Caine), da riqueza visual ao argumento, este, sublinhe-se, ao nível do que de melhor já se fez em drama e único, verdadeiramente NUNCA FEITO, no contexto de um filme como o Batman. Ainda assim, à excepção do mais do que obrigatório Óscar ao Ledger, infelizmente manchado pela sua morte, o Dark Knight só justificou outro Óscar, e para essa categoria retumbante que é melhor edição de som, à laia de esmola. Sinceramente, era melhor que não tivesse ganho nada. Numa cerimónia extraordinariamente anti-preconceituosa, que passou à história pelos prémios ao lobby dos pobrezinhos (melhor filme e realizador para o hiper-overrated Slumdog Millionaire) e ao lobby gay (melhor argumento original e melhor actor para o Milk, aqui com a aberração de atropelo ao papel de uma vida do Mickey Rourke), não deixa de ser irónico que não tenha havido espaço para estas coisas da acção, como sempre a viram, que só poderia, fosse qual fosse a circunstância, descredibilizar tão distinta cerimónia. Tão irónico como, um ano depois da perturbadora falta de coragem para nomear o Dark Knight, os Óscares deste ano se preparem para ter dez nomeados para melhor filme, justamente para não ser preciso voltar a decidir entre delicados The Readers, condenados crónicos ao esquecimento, e qualquer coisa como filmes para uma vida. É irónico. Sobretudo porque ficar à espera dos Dark Knights que devem aparecer todos os anos é continuar, um ano depois, sem perceber a verdadeira dimensão do que o génio do Chris Nolan conseguiu.
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