quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Surpreendente, de facto


O maior elogio que posso fazer ao District 9 é dizer que foi possivelmente o primeiro filme de ficção científica que vi, com quase nada que já tivesse visto noutro lugar qualquer. O filme distingue-se da larga generalidade por uma criatividade de abordagem verdadeiramente incomum, que nos apanha desde o primeiro minuto, e que atinge, depois, um ritmo duro o suficiente para nos manter colados até ao fim. Facto é que as explosões, as armas, a caracterização das personagens, tudo é dalguma maneira secundário ao pé do argumento em si, e isso é incrível, num filme deste género, obra dum desconhecido vulto chamado Neill Blomkamp, que não só escreveu como realizou o filme, sob a benção do mestre Peter Jackson. District 9 fala de sobrevivência, de fé e de transcendência, primeiro duma comunidade, de extra-terrestres sim, mas dos que não têm super-poderes nem condições para inverter o rumo das coisas, incapazes de voltar para casa, mesmo que em 20 anos nunca tenham deixado de acreditar que era possível, e tratados como lixo pelos humanos, numa metáfora admirável. Retrata, depois, a vontade de acreditar dum homem, um homem comum, de que era possível voltar à vida comum que sempre tivera, algo de que nunca abdica mesmo no limite (o fim do filme é de outro género que não ficção científica, sem dúvida). Neste papel de protagonista encontramos um senhor chamado Sharlto Copley, um sul-africano que assombra neste filme, por fazer parecer tudo aquilo tão sofrido e tão genuíno o que, como é bom de ver, é tanto mais difícil quanto mais ficcionado é o universo que o envolve. Não podia deixar ainda de mencionar a banda sonora, tanto mais magistral à medida que o filme se encaminha para o fim, a exploração incrível das possibilidades de uma personagem computadorizada como Christopher Johnson, o alien-protagonista (chega a ser arrepiante) e ainda a técnica de filmagem, à falta de nome mais técnico, de câmara na mão, ao que ainda se juntou um enquadramento da estória num estilo-documentário, do qual sou um confesso fã.

Pese a originalidade do filme, não devo, ainda assim, deixar de dizer que todos quantos não gostem por aí além de ficção científica, talvez não se apaixonem por ele, como eu também não absorvo plenamente o género, apesar de reconhecer a sua extrema qualidade, nem tanto pelos pontos fracos do filme, que também os houve (não acho que a interacção com os aliens funcione plenamente, mercenários ao barulho e o sogro boss e mauzão é mais do que batido, por exemplo). De qualquer maneira, mesmo para quem não é fã de efeitos especiais, que estão presentes, apesar de tudo, e duma certa dureza sanguinária, entre outras características, este é um filme altamente recomendado. A mim, pelo menos, mostrou o género com uma profundidade como eu nunca o tinha visto.

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