quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O Iraque nos Óscares


The Hurt Locker é um filme sobre limites. Sobre ter de viver em cima da linha, mas também mais do que isso, sobre gostar de o fazer. Foca-se no Iraque, e não é novo a esse respeito, exala violência física e, sobretudo, psicológica, o que, apesar da competência, também não será a sua maior qualidade. O forte do filme é a adrenalina, a pressão e o nervo dum desactivador de bombas e da sua equipa, que sai, todos os dias, à procura da morte (um paradoxo giro, num filme de guerra). Mais do que isso, o melhor do filme é a personagem principal. Da arrogância inicial desfecho, Jeremy Renner está em permanente crescendo, entre a habilidade extraordinária para fazer o seu trabalho, e o homem atormentado pelo seu passado e pela sua obsessão, capaz de fazer tudo o que for preciso para alimentar um vício. Um homem obcecado com a caça, incapaz de viver fora do limbo.

Apesar desses focos de interesse, não acho, sinceramente, que este seja um filme para ficar na memória, nem que mereça significativamente as nomeações que teve para os Óscares, já depois dos Globos de Ouro. Porque nem o contexto (Iraque) nem o argumento (a premissa toca no majestoso Heat, por exemplo) são originais o suficiente, porque a realização, apesar de trabalhar bem o suspense, não introduz nada que espante, nada inesperado, e porque acho que a banda sonora, a envolvência a esse nível, é muito mais pobre do que deveria, apesar das nomeações para Mistura de Som, Edição de Som e inclusive Melhor Banda Sonora chocarem a toda a linha com esta visão. Diria que, das 4 nomeações que teve (filme, realizador, actor principal e argumento original), fora as categorias técnicas, só a performance de Jeremy Renner é verdadeiramente oscarizável. De resto, parece-me que o contexto e a dureza psicológica retratados, e que vão sendo cada vez mais familiares aos americanos, contaram mais do que deveriam.

3 comentários:

Leandro Silva disse...

A direcção não é oscarizável? Achei que a direcção está no limiar do perfeito, no sentido que define o filme. Põe o espectador no filme, ora com tremeliques na imagem ora com o jogo de perspectivas.

Não é um filme histórico, mas é bastante competente. Ao contrário, por exemplo, do Avatar que também está nomeado para Melhor Filme e basicamente é um carro bonito com um motor de merda.

Paulo Pereira disse...

Não acho que ela faça uma má realização. O suspense está bom, os momentos de desgaste estão razoáveis, talvez até seja da própria natureza do filme, só não acho que ela faça ali nada de criativo. Vais a ver e os tremeliques e as mudanças de perspectiva são todos mais ou menos esperados, e comuns ao que se faz em coisas do género. Enfim, não ter achado o filme nada de especial talvez não abone o meu juízo.

Quanto ao Avatar, nada a dizer quanto ao argumento, que é mesmo uma merda. De qualquer maneira, a riqueza visual do filme, a maneira como se explora aquela realidade, trabalhada ao pormenor pelo Cameron, acho que justifica as nomeações para Filme e Realizador. Apesar de não ser, obviamente, o Melhor Filme entre os nomeados.

Aline disse...

Não consegui assistir ao filme até ao fim, no sofá da sala. Oscilo entre sentir-me ignorante e sentir-me mesmo GAJA