domingo, 16 de janeiro de 2011

127


Era um dos filmes mais esperados do ano e, sinceramente, não me encheu as medidas. Apesar das circunstâncias se apropriarem, a opção por um filme quase a solo do protagonista foi arriscada e, para mim, difícil de gostar. Mesmo que se tenha tido algum sucesso a contornar esse tempo no mesmo sítio e com um único intérprete, e com o filme a durar apenas 1h30, o solo é limitador para quem vê. E também não sou fã da realização de Danny Boyle, que é um tanto ou quanto turva, mesmo que isso seja propositado para ritmar a acção. Sendo um filme que vive dessa realização, baseado numa história verídica, acabou por ter uma assinatura muito marcada de Boyle, e tornou-se numa obra mais artística do que fluente. Também James Franco, nomeado para Melhor Actor Drama nos Globos de Ouro, está longe de ser inesquecível, ainda que seja competente, e não desfaça o papel.

Ainda assim, 127 Hours não deixa de ser um filme interessante. A gestão do tempo no solo de Franco acaba por dar espaço a coisas bem feitas, muito especialmente, à exploração do carácter do personagem, com base naquela situação aludida ao resto da sua vida, e isso é a grande mais-valia do filme. Franco é Aron Ralston, um aventureiro que explora os canyons sozinho, e o que lhe acontece, numa viagem em que não lhe apetecera avisar ninguém do seu paradeiro, e em que só tinha querido dar azo, mais uma vez, ao gosto por estar sozinho, serve de analogia, pelo próprio personagem, para todo o seu percurso de vida, magistralmente resumida no alucinado devaneio "Toda a minha vida foi um caminho até esta pedra".

Fantástica é a banda sonora, dirigida por A.R. Rahman, vencedor do Óscar com Slumdog Millionaire, e tem um dos "singles" mais fortes do ano, If I Rise, com Dido, que passa injustamente ao lado da corrida de amanhã para Melhor Música.

Longe de ser um fracasso, 127 Hours deixa a sensação de que ficou a meio caminho de qualquer coisa maior.

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