domingo, 30 de janeiro de 2011

Breaking Bad


Não é doentiamente viciante, particularmente glamourosa, e não tem uma empatia ímpar, das personagens ao cerne da acção. Mas é, definitivamente, a série mais bem realizada que já vi. Nos 20 episódios que constituem as duas primeiras temporadas, Breaking Bad faz-nos babar com a classe com que é filmada, a riqueza de planos, de abordagem, tudo com um sentido estético pouco comum em televisão.

A série conta a história dum professor de Química que, na frustração e na crise de meia idade, e com uma filha a caminho, descobre que tem um cancro no pulmão, em fase terminal. Então, com o peso duma vida falhada nas costas, para ele que tinha sido uma potência-promessa na área, e com a perspectiva de deixar a família ao Deus dará, Walter White começa a produzir metanfetaminas, de extrema qualidade, auxiliado por um antigo aluno, traficante.

Seguimos então o crescimento instável e as vicissitudes do jogo, à medida que White, amargurado com a vida que tem, luta contra a própria doença, enquanto tem de esconder o segredo à família, e gerir o progresso. À realização junta-se uma tremenda criatividade nas histórias de episódio sobre episódio (para o que contribuiu a série ser curta - 7+13 -, nas duas primeiras temporadas), que quase nunca são banais, e ultrapassam bem a falta de "mistério" ou de segredos para o público.

E claro, as interpretações são muito boas. Bryan Cranston, acima de todos, tem uma performance extraordinária, tão realista ao ponto de sentirmos a sua frustração e amargura como genuínas, ao ponto dele próprio nos irritar. Também Aaron Paul está a um nível alto (mais entre o fim da Primeira e o início da Segunda), com uma personagem que sonegou uma vida perfeita, para acabar embrenhada num mundo sombrio, muito distante do que nasceu. RJ Mitte, o filho com paralisia cerebral do protagonista, ele próprio com paralisia leve, cresce bastante no decorrer da série. E nota ainda para o desempenho extraordinário de Raymond Cruz (4 episódios), no início da 2ª Temporada, e para a sensualidade de Krysten Ritter.

Breaking Bad não é inebriante ao ponto de nos colar, mas é uma série duma enorme qualidade, que merece ser acompanhada. Valeu a Bryan Cranston, para já, um Globo de Ouro e três Emmys, para Melhor Actor dramático, um Emmy para Aaron Paul, por Melhor Actor Secundário, e uma nomeação Emmy para Melhor Série dramática.

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