À partida, a minha receptividade não era a maior. Discordava de quem falava num filme de grande coragem, por fazer-se um mudo em 2011, e de quem dava a entender que a forma do filme valia, por si só, o elogio: é que apostar num filme destes é, realmente, criativo... mas o risco era zero. Se fosse razoável, o revivalismo seria sempre apreciado; se fosse mesmo bem feito, tornava-se num hit, porque, afinal de contas, tinha-se feito aquilo com um mudo.
Certo é que The Artist é um filme surpreendente. Queria dar à sua forma uma importância relativa, mas salta à vista o brilhantismo da realização de Hazanavicius. O francês também escreveu o argumento - um drama romanceado sobre resistência à mudança, orgulho e decadência, com a matrioshki de ser um filme mudo sobre filmes mudos -, mas o que torna o resultado especial é a sensibilidade e a classe da sua realização, que não esconde a devoção pelo género, e que é capaz de compor todos os momentos do filme como uma peça de arte, alicerçada na poderosa banda sonora que se exigia. No fundo, Hazanavicius foi capaz de desmistificar todos os preconceitos: The Artist não é um filme mudo porque sim, mas um dedicado trabalho de autor, que presta uma respeitosa homenagem a um género perdido, e que, mesmo sem uma trama de cortar a respiração, constitui uma notável experiência cinematográfica.
Jean Dujardin é absolutamente icónico. Carismático, teatral e a encher o ecrã sem abrir a boca, é um verdadeiro figurão de revista daqueles tempos, que nos deixa na dúvida se, de facto, não terá sido teletransportado da Hollywood dos anos 20. A disputa do Óscar com Clooney será um duelo de titãs, mas, para mim, é mesmo ele o melhor actor do ano. Bérénice Bejo também merece a sua nomeação, numa performance entusiasta, de uma agilidade e alegria contagiantes. E, finalmente, vénia seja feita a Uggie, o Jack Russel Terrier que já tinha entrado em Water for Elephants, e a Omar Von Muller, que o criou e treinou: é um pequeno espectáculo e, em Cannes, até recebeu uma Palma de Ouro.
Na disputa mais do que anunciada com The Descendants para Melhor do Ano, tenho de escolher o filme de Alexander Payne mas, independentemente do que aconteça, The Artist é uma obra belíssima, que merece por inteiro o reconhecimento que está a ter.
7/10
Sem comentários:
Enviar um comentário