Em 1993, o melhor grupo de futebolistas da história da Zâmbia morreu tragicamente num acidente de avião, ao largo do Gabão. Essa equipa viria a ficar a um único ponto do Estados Unidos-94, e, até agora, o país nunca chegou a jogar um Mundial. Ontem, exactamente no Gabão, a Zâmbia venceu incrivelmente, e pela primeira vez, uma Taça das Nações Africanas. Esta semana, quando todo o grupo foi benzer-se ao mar, em homenagem, o capitão Katongo disse que o espírito daqueles mortos estaria com eles. Com mais ou menos misticismo, ver uma equipa inteira de jogadores profissionais ajoelhada e a rezar em voz alta antes de um penalty decisivo, e assistir, depois, à lembrança eufórica da "geração perdida" foi qualquer coisa de inesquecível.
Tudo na vitória da Zâmbia foi arrepiante. Os Chipolopolo, ou "Balas de Cobre", como são conhecidos, foram underdogs do início ao fim e, sem um único jogador de nomeada, abateram o Senegal, o Gana e a Costa do Marfim. Nunca os tinha visto, e, portanto, nunca poderia imaginar o que valiam. A Zâmbia mistura os melhores mundos do futebol africano: por um lado, foi absolutamente inteligente a abordar o jogo, segurando-o com linhas de 4 defesas e 4 médios que pareciam betão; por outro, é uma equipa talentosa e contagiante, capaz de esticar o jogo num carrossel de velocidade e técnica, e disputá-lo num ritmo de parada e resposta, sempre de igual para igual, com a colossal Costa do Marfim. Hervé Renard (43 anos), ou o "Feiticeiro Branco", como lhe chamam na Zâmbia, até aqui com uma carreira discreta, fez um trabalho brilhante, por tudo o que se vê e, muito especialmente, pela química com os jogadores, tão incontornável no fim.
A Costa do Marfim tinha tudo a perder, e perdeu. Egipto, Camarões e Nigéria falharam a CAN, Marrocos, Senegal, Gabão e Gana falharam a final, e a equipa nem teve de sujar as mãos com nenhum deles, não tendo sofrido sequer um único golo em toda a competição. Faltava a final. O mais ingrato é que os marfinenses não foram displicentes, pretensiosos, nem jogaram mal: tiveram foi o azar de encontrar outra grande equipa, mesmo que, à partida, poucos fossem capazes de o ver. Na fábula da apaixonante Zâmbia, doeu, ainda assim, a falência de um Golias: Drogba perdeu o penalty mais importante da sua vida e deixou fugir, aos 33 anos, a chance de ganhar a primeira CAN da sua brilhante carreira. É impossível não nos rendermos aos zambianos, mas poucas seriam as vezes em que a queda de um gigante compadecesse tanto.
Quando o futebol lembrar 2012, este Zâmbia-Costa do Marfim lá estará, num lugar de honra. A CAN acabou da única maneira que lhe faria justiça: com paixão em estado puro.
Zâmbia - A equipa merece que se abra a boca de espanto. Fiável a defender é, contudo, no momento da construção ofensiva que tudo se ilumina. Chris Katongo (29 anos, joga na China) foi a figura maior, e já considerado o Melhor Jogador da CAN: é um capitão de corpo inteiro na extrema direita, consistente e constante, cheio de força, finta e faro pela baliza. Emmanuel Mayuka (21 anos, Young Boys) é a outra grande estrela, no coração do ataque. É agil e um mestre a jogar de costas para a baliza, a mover-se pela frente de ataque e a baralhar marcações, senhor de uma magnífica recepção de bola. Rainford Kalaba (25 anos, joga no Congo), que já passou por Braga, Gil Vicente e Leiria, completa o virtuosismo do trio de ataque, sendo o mais técnico e esguio, e fazendo uso de um remate fácil. Isaac Chansa (27 anos, joga na África do Sul) é um médio extraordinário, que chega ao ataque numa passada larga mas com pés de veludo, para abrir o livro numa explosão de técnica. E Félix Katongo (27 anos, joga na Zâmbia), irmão de Chris!, foi um substituto de luxo, a agitar todo o meio-campo ofensivo na sua condição de número 10.
Costa do Marfim - O melhor foi Max Gradel (24 anos, Saint-Etiénne), que saltou do banco para dar uma alma do tamanho do mundo aos marfinenses. Foi jogar para a extrema-esquerda, e fez um estrago tremendo, no seu jogo profundamente técnico, de desequilíbrios e diagonais. Didier Ya Konan (27 anos, Hannover) também entrou na 2ª parte, e trouxe intensidade ao miolo, para o que contribuiu a sua grande facilidade em aproximar-se da área. Em ambos os casos, mérito para as mexidas do técnico François Zahoui. A tempo inteiro, o melhor foi Gervinho, sempre ligado ao jogo, sempre difícil de parar (é ele quem ganha o penalty).
Tudo na vitória da Zâmbia foi arrepiante. Os Chipolopolo, ou "Balas de Cobre", como são conhecidos, foram underdogs do início ao fim e, sem um único jogador de nomeada, abateram o Senegal, o Gana e a Costa do Marfim. Nunca os tinha visto, e, portanto, nunca poderia imaginar o que valiam. A Zâmbia mistura os melhores mundos do futebol africano: por um lado, foi absolutamente inteligente a abordar o jogo, segurando-o com linhas de 4 defesas e 4 médios que pareciam betão; por outro, é uma equipa talentosa e contagiante, capaz de esticar o jogo num carrossel de velocidade e técnica, e disputá-lo num ritmo de parada e resposta, sempre de igual para igual, com a colossal Costa do Marfim. Hervé Renard (43 anos), ou o "Feiticeiro Branco", como lhe chamam na Zâmbia, até aqui com uma carreira discreta, fez um trabalho brilhante, por tudo o que se vê e, muito especialmente, pela química com os jogadores, tão incontornável no fim.
A Costa do Marfim tinha tudo a perder, e perdeu. Egipto, Camarões e Nigéria falharam a CAN, Marrocos, Senegal, Gabão e Gana falharam a final, e a equipa nem teve de sujar as mãos com nenhum deles, não tendo sofrido sequer um único golo em toda a competição. Faltava a final. O mais ingrato é que os marfinenses não foram displicentes, pretensiosos, nem jogaram mal: tiveram foi o azar de encontrar outra grande equipa, mesmo que, à partida, poucos fossem capazes de o ver. Na fábula da apaixonante Zâmbia, doeu, ainda assim, a falência de um Golias: Drogba perdeu o penalty mais importante da sua vida e deixou fugir, aos 33 anos, a chance de ganhar a primeira CAN da sua brilhante carreira. É impossível não nos rendermos aos zambianos, mas poucas seriam as vezes em que a queda de um gigante compadecesse tanto.
Quando o futebol lembrar 2012, este Zâmbia-Costa do Marfim lá estará, num lugar de honra. A CAN acabou da única maneira que lhe faria justiça: com paixão em estado puro.
Zâmbia - A equipa merece que se abra a boca de espanto. Fiável a defender é, contudo, no momento da construção ofensiva que tudo se ilumina. Chris Katongo (29 anos, joga na China) foi a figura maior, e já considerado o Melhor Jogador da CAN: é um capitão de corpo inteiro na extrema direita, consistente e constante, cheio de força, finta e faro pela baliza. Emmanuel Mayuka (21 anos, Young Boys) é a outra grande estrela, no coração do ataque. É agil e um mestre a jogar de costas para a baliza, a mover-se pela frente de ataque e a baralhar marcações, senhor de uma magnífica recepção de bola. Rainford Kalaba (25 anos, joga no Congo), que já passou por Braga, Gil Vicente e Leiria, completa o virtuosismo do trio de ataque, sendo o mais técnico e esguio, e fazendo uso de um remate fácil. Isaac Chansa (27 anos, joga na África do Sul) é um médio extraordinário, que chega ao ataque numa passada larga mas com pés de veludo, para abrir o livro numa explosão de técnica. E Félix Katongo (27 anos, joga na Zâmbia), irmão de Chris!, foi um substituto de luxo, a agitar todo o meio-campo ofensivo na sua condição de número 10.
Costa do Marfim - O melhor foi Max Gradel (24 anos, Saint-Etiénne), que saltou do banco para dar uma alma do tamanho do mundo aos marfinenses. Foi jogar para a extrema-esquerda, e fez um estrago tremendo, no seu jogo profundamente técnico, de desequilíbrios e diagonais. Didier Ya Konan (27 anos, Hannover) também entrou na 2ª parte, e trouxe intensidade ao miolo, para o que contribuiu a sua grande facilidade em aproximar-se da área. Em ambos os casos, mérito para as mexidas do técnico François Zahoui. A tempo inteiro, o melhor foi Gervinho, sempre ligado ao jogo, sempre difícil de parar (é ele quem ganha o penalty).
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