sábado, 25 de agosto de 2012

Imortais


Armstrong vai perder os 7 Tours, dizem eles.

Não há como evitar um sorriso. É como as Pussy Riot serem presas por desacatos religiosos. A máquina cospe-nos a coisa, formalmente imbatível, possuída da certeza ingénua de que tem as evidências consigo. Nós, ficamos só a olhar com toda a condescendência do mundo: acreditarão eles mesmo que podem reescrever a História?

Armstrong é o maior que alguma vez vi correr. É, também, o desportista mais controlado de todos os tempos. A perseguição a que foi sujeito, durante a sua estratosférica carreira, foi qualquer coisa de doentio e febril, e ultrapassou todos os limites do razoável. Foram dezenas os furos dos jornais franceses que o odiavam, e os médicos e colaboradores e ex-colegas prontos a acusá-lo, e, no entanto, mais de 600! controlos depois, não lhe conseguiram tocar nem num fio de cabelo, para desespero esganado das suas hordas de inimigos.

Armstrong sempre foi o gigante que toda a gente queria ver cair. Como um verdadeiro gigante, porém, ganhou tudo, foi e voltou, e, mesmo assim, nunca perdeu um centímetro de altitude, nunca deixou de ser inatacável.

Hoje, 3 anos depois do último dia, parecem finalmente perto de lhe roubar as 7 Voltas a França. Porque os cães nunca deixaram de correr desalmados por sangue, porque nunca lhe deram paz, mesmo depois do fim. Nunca lhe perdoaram por ser de verdade num desporto tantas vezes podre, por nunca ter fraquejado, por nunca ter perdido, por ser tão espectacularmente melhor do que eles.

Agora, ou continuava nos tribunais até morrer, ou abdicava dos títulos. Como sempre, fez a escolha certa. As águias não caçam moscas. Lance já provou tudo o que tinha a provar, e fê-lo todos os dias da sua carreira. Depois de lhe tirarem os títulos, quem sabe se os pobres diabos que o perseguem compreenderão que a imortalidade não se perde na secretaria.

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