segunda-feira, 13 de maio de 2013

2-1, marcou o trauma


Tudo eternizado num bocado de fotojornalismo ideal. Dificilmente se poderia resumir melhor por palavras o que de épico e trágico assolou o fim do jogo do ano. Um nos joelhos, prostrado, no momento em que voltava a perder tudo; outro suspenso no ar, a flutuar na efusão de uma vitória quase profética, que lhe garantiram impossível.

O Benfica podia ter perdido no Dragão de muitas maneiras diferentes. Perdeu nos descontos, quando já sobrevivera à borrasca e já via a praia, quando já tinha feito tudo o que era difícil, e quando até o relógio já corria por si. E perdeu por obra e graça de duas galinhas de ovos de ouro tiradas pessoalmente da cartola de Vítor Pereira, primeiro um velhote que já pediu pensão de invalidez, depois um rapazinho brinca na areia, de quem nunca se esperou verdadeiramente nada. Afinal, pareceu no fim, os deuses estiveram só a brincar com o Benfica; independentemente do que fizessem um e outro, acabaria sempre assim. Não escrevo com condescendência, mas o chutão de Kelvin carregou uma brutalidade tal, que qualquer um que tenha visto de fora, deve-se ter compadecido do Benfica. Portistas houve que se chocaram antes de festejar; e qualquer benfiquista deve ter pensado que, se não ganhava ali, não ganha nunca mais.

Claro que nada disto é assim tão simples. Quem perde, tem sempre culpa, mesmo que essa culpa não seja só ter especulado com um resultado que lhe era favorável; quem ganha, tem sempre mérito, mesmo que esse mérito não seja só ter tirado na lotaria todos os seus suplentes. A verdade é que, imprimindo uma qualidade extrema ao seu jogo, Jesus continua a baquear em todas as 25as horas, e isso não é azar. Vítor Pereira, por sua vez, vive naquela luta nervosa por reconhecimento, que traduz a sua falta de carisma, e com a qual é impossível simpatizar, mas tudo o que tem feito é chegar à meta a esmagar as expectativas que têm para ele, e isso não tem nada a ver com sorte.

Racionaliza-se tudo e, no fim, continua a parecer insuficiente para explicar. Estejam melhores, piores ou mais ou menos, estejam muito moralizados ou perfeitamente descrentes, seja num 5-0, ou a recuperar dois golos de desvantagem fora, ou com um golpe de asa nos últimos descontos do campeonato, um e o mesmo trauma continua a encontrá-los de todas as vezes. Como é que se olha para os jogadores e se os convence que da próxima vez vai ser diferente?

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