"I have no choice but to direct my energies toward the acquisiton of fame and fortune. Frankly, I have no taste for either poverty or honest labor, so writing is the only recourse left for me." Hunter S. Thompson
quinta-feira, 23 de maio de 2013
A última fronteira do futebol romântico
Admire-se o Bayern, claro que sim. É tanta força, tanta disponibilidade, tanta ausência de limites. É a pujança, a disciplina e a fiabilidade de um exército perfeito, capaz de esmagar, em dor e em contra-relógio, virtualmente qualquer adversário. 7-0 à melhor equipa da História, a rodar jogadores, a tirar o pé, e quase sem suar. Dois anos sem ganhar foram quanto baste para congeminar a equipa ideal. Tão estupidamente forte em cada detalhe da sua mecânica, que até se autoriza a não ser germânica, de cada vez que liberta o talento alucinante franco-holandês que tem nas asas. Este Bayern plenipotenciário é a equipa que pode tudo, menos falhar. É um Império feito à mão na goela de todos e de cada um dos seus adversários, à espera da mera formalidade de se oficializar.
Do outro lado, como numa Batalha de Termópilas em mais radical, um homem chega-se à frente sozinho, contra todas as legiões. Iluminado pelo seu divino sorriso dos loucos, desdenhoso e provocador, como se o David contra Golias lhe fosse, na verdade, um plano espectacularmente favorável, mesmo que mais ninguém o saiba. O seu Borussia presta-se em campo com metade do orçamento do rival, para quem acabou de perder, não só um campeonato por 25 pontos, como, à laia de troféu, o seu mais brilhante futebolista. Klopp ri-se. Churchill disse, uma vez, que uma das coisas que mais admirava, era que os homens soubessem rir enquanto lutavam. Não viveu para o ver acontecer. Klopp ri-se de todas as vezes, de boca cheia e olhar incendiário, e, sozinho, comete a barbaridade de assombrá-los a todos, como se soubesse mais do que eles, como se o grande rival já estivesse morto e ainda nem pudesse desconfiar.
O Bayern é favorito; é, também, quem tem tudo a perder. O Borussia, por sua vez, dar-se-á ao luxo de jogar uma final dos Campeões a ser tão desconcertante como o seu ADN. Wembley é a festa que uns vão para zelar, e outros para assaltar, que uns vão garantir que corre bem, e outros fazer com que corra mal. Claro que o Bayern é mais forte, e claro que tenderá a ganhar qualquer jogo entre ambos. A certeza que terroriza Munique, porém, é que, em qualquer dia, o seu inimigo público número 1 pode mesmo roubar a festa. E nenhum bayernista poderá dizer, com certeza, que não será amanhã.
Nesse doce terror psicológico, Klopp jogará a sua final como merece. Na pele do underdog que só sabe ser entusiasmante, mas que, no fim, pode realmente ganhar. Porque o Borussia tem em si um delírio muito mais importante do que o jugo das probabilidades: tem a confiança estapafúrdia de que, com talento e coragem, se pode sempre tudo. E vive tão grandemente a essa imagem, que nos obriga a todos a acreditar. Este projecto futebolístico inesquecível, esquadrinhado por um feiticeiro de uma pequena aldeia da Floresta Negra, é o futebol romântico nos seus dias de maioridade, a subverter sejam quais forem as fórmulas. É possível não estar a torcer pelo Borussia?
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