segunda-feira, 27 de maio de 2013

Vitórias maiores do que o resto


Este é o Vitória que só foi feito para sofrer. Mergulhado num passivo megalómano que punha em causa a sua própria existência, teve de saber estar à altura da situação. No Verão, não perdeu, pois, um par de jogadores relevantes. Teve de deixar partir, a um único corte, todo um corredor da fama de notáveis. Nilson, Defendi, Bruno Teles, João Paulo, Pedro Mendes, Nuno Assis, João Alves, Toscano, Faouzi, Paulo Sérgio e Edgar. Desfez-se de um onze para lutar pelos primeiros lugares do campeonato, e não ficou com mais do que uma mão de velhos caminhantes, para embalar o berço de miúdos de que se fez verdadeiramente o plantel. Um plantel que nem mesmo assim houve sempre dinheiro para pagar.

Este desfecho não é, portanto, menos do que uma monstruosidade. No início do ano, a equipa não tinha mais ao que aspirar, do que tentar humildemente evitar a tragédia que lhe estava escrita; hoje, leva para Guimarães a primeira Taça da História do seu histórico Vitória, está na Liga Europa e todos os seus miúdos parecem, na verdade, futebolistas notáveis, como se se tivesse descoberto uma mina qualquer debaixo do Afonso Henriques. Claro que nada acontece por acaso, muito menos quando alguém consegue transcender tão brilhantemente as suas circunstâncias. De todos os vitorianos que mereciam ter ganho esta Taça, nenhum a mereceu mais do que o Rui homónimo que é o chefe do barco. Admiramos os treinadores que ganham, e admiramos mais os que ganham quando não são favoritos. Aos que lá chegam depois de lhes terem roubado quaisquer expectativas, temos a obrigação de desejar ainda melhor.

Rui Vitória é um homem de quem se gosta. Simples, brutalmente genuíno. Sentiu-se isso outra vez hoje quando, com um nó na garganta, a primeira coisa que fez foi agradecer aos pais, que perdeu há dez anos num acidente de carro, na mesma semana em que se tornou treinador profissional. Fala assim, de coração, sem esforço. É um tipo empático, bom com as pessoas, um líder que, vê-se de fora, é fácil de querer seguir. Ao ver as condições que teve e o que conseguiu, ao ver a sua maneira de estar, é impossível não ficar contente por ele. Depois, claro, quem sabe sentir um clube como sente Guimarães, merece sempre. É o tipo de vitórias que não são minhas, mas que nunca me vão deixar indiferente. Como com a Briosa, no ano passado, é a essência da Taça consumada, é a celebração de um futebol português maior e melhor do que os grandes, que pode fazer a festa e ser feliz de Guimarães ao Funchal, de Coimbra a Setúbal. Ao saber como aquela gente vai festejar, é certo que faz tão mais sentido assim.

Porque também há derrotas maiores do que o resto, o último capítulo do Benfica 2012/2013 não pode ser relativizado. Mantenho a opinião sobre a valia de Jesus, mas há um limite racional para o que se pode realmente perder. Até mais do que o campeonato e do que a UEFA, deixar fugir esta Taça de forma tão grosseira e desencantada, com postura de quem perderia todos os jogos destes até ao fim da vida, e ainda ter uma das figuras da equipa a colapsar isso tudo em pleno campo, é esse limite. É o tipo de caminho do qual dificilmente há regresso.

1 comentário:

Raquel disse...

Já estava mais do que na hora de ganharmos uma Taça, por tudo o que fazemos pelo Vitória, pelo tanto que a cidade de Guimarães faz pelo clube. É muito bom viver este acontecimento, depois de todas as dificuldades pelo que passamos. Aqui temos como lema sermos únicos. E somos, de facto, únicos.
E é bom, muito bom mesmo, ler textos de fora sobre o nosso clube do coração. Obrigada!