segunda-feira, 27 de maio de 2013

O coração e o génio


Acreditei que o Borussia podia ter ganho, com aquela certeza de quem quer realmente que uma coisa aconteça. No campo, a Kloppologia fez jus à minha fé. Esteve lá, esteve quase, nos pés do Lew4, do Kuba, do Reus, todos a bombardearem a área protegida pelos tanques, e depois por um maior do que eles todos, português de primeiro nome, gigante de segundo, Manuel Neuer. Foi um jogaço e foi aberto, claro que sim, e o suspeito do costume não andou lá a vender milagres a solo. Do outro lado, bem se viu, esteve um senhor chamado Weindenfeller. Mas isso já se sabia, era como tinha de ser. A porta ao sonho fechou-a Neuer, tão gelado e providencial como sempre, qual ciborg a cumprir um guião, averso à paixão subversiva que as bancadas do Westfallen canalizavam em pleno Wembley.

Com o correr do jogo, o Borussia sentiu a vida a ir-se, ao passo que o Bayern, qual Dementor, ficava mais e mais predador. Quando o velho Roman voou a ir buscar o último torpedo de Schweisnteiger, porém, pareceu definitivo. A vitória era aquilo. Não seria na poesia dum circo a incendiar, mas o Borussia ia ganhar pelo desgaste. Com o rival a suar frio na meia-hora seguinte, e a ter os fantasmas todos a engoli-lo nos penalties. Tivesse chegado o minuto 90, e o Dortmund teria ganho. Talvez porque soubessem disso, os homens de Heynckes correram o que tinham e o que não tinham nesses últimos minutos. Como se, para eles, o jogo acabasse mesmo ali, e em vez de prolongamento, só os esperasse um longo e inelutável abismo.

De todos os desenlaces possíveis, o desfecho de última hora só podia ter morado nas botas daqueles dois grandíssimos futebolistas, há tantos anos a fazerem mais do que o necessário para merecer o seu lugar: o Scarface, com dois toques tão mínimos quanto portentosos, a endossar a bola em ambos os golos; e, claro, o Homem de Cristal, logo ele, destinado a passar à História como o tal que sucumbia às finais, já depois de ter voltado a falhar uma, duas ou três, logo ele, a materializar, ao compasso da sua idílica canhota, a obra-prima de uma vida, àquele minuto 88. O Borussia merecia viver o seu sonho perfeito, e o romantismo teria batido a força. A realidade vingou, sim, mas só porque dignificou a ilusão. Só seria possível quebrar aquela alma assim, à mercê de tamanho talento.

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