quinta-feira, 16 de maio de 2013

Nas tragédias não se pode ganhar. Vale alguma coisa que não se perca tudo


Naqueles dois segundos em que um compasso invisível desenhou um arco imaculado à cabeçada de Ivanovic, acho que ninguém acreditou verdadeiramente que a bola lá acabasse mesmo dentro. Acho que, mesmo depois dela pingar na rede com aquela graciosidade desesperante, se perderam mais uns segundos a não acreditar. Há coisas que não acontecem. O Benfica perder uma competição europeia depois de perder o campeonato, no espaço de 5 dias, e sempre ao minuto 92, era uma delas. A cara das pessoas à volta será muito difícil de esquecer. Não era raiva, nem pânico, nem desilusão; era o desalento em estado puro. Era cara de quem já tinha vivido o pesadelo e que, em toda a consciência, não podia crer que o estava a viver outra vez. Cara de quem se esvaiu da força para reagir, de quem queria chorar e já nem conseguia.

O Benfica fez uma final notável. Cheia de personalidade, própria de uma equipa madura, que perdera o campeonato há um par de dias, mas que continuava a ir jogar uma competição europeia certa de si. Uma equipa vaidosa do seu futebol, a fazer questão de mostrá-lo à Europa e de ir ganhar com ele. No Dragão, o Benfica agiu como quem tem tudo a perder, e perdeu; o efeito foi entrar em Amesterdão disposto a ir ganhar primeiro, tão bem como sabia. Assim, está-se sempre mais perto. Assim, ninguém perde para sempre.

Claro que houve gente a festejar a derrota do Benfica. Faz parte. Depois do Porto, contudo, e do extremismo de um versus o outro, acho que a grande maioria dos não benfiquistas teve a hombridade de saber compadecer-se. A nobreza de, seja por um vago patriotismo, pelo sentido de que ninguém merece perder assim, ou pelo reconhecimento de quem foi, de facto, melhor, ter ficado afectado pela derrota, a desejar-lhes sinceramente outra sorte. O Benfica perdeu, e isso não melhora. Não existem vitórias morais. Faz parte. O respeito das pessoas, porém, mesmo que não seja mais do que uma gota de luz no breu, diz sempre quase tudo sobre o mérito do que se fez.

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