Portugal - Cuba, 5-0
O adversário foi demasiado macio para se ir longe nas conclusões, mas há algumas, muito positivas, que têm de ficar. Acima de tudo, a predisposição da equipa. Se, contra a Coreia, a Selecção parecera dolosa e pouco comprometida, desta vez não se limitou ao dever cumprido. Mesmo sem precisar de estar num ritmo alto, teve fome de bola, quis muito mostrar o seu futebol e quis marcar muitos golos. Era fácil ter-se conformado ao calor, e, entre nós, vulgar era ter complicado. Desta vez, porém, a atitude foi exactamente oposta, e isso fala pela sua postura. Hoje, Portugal jogou e comportou-se como uma equipa grande, e isso é um dado entusiasmante para o futuro imediato.
O exemplo partiu do banco. A leitura de Edgar Borges em relação ao jogo anterior foi excelente: saíram, de uma vez, todos os cinco elementos em sub-rendimento - lateral-direito, central, trinco, médio-interior e extremo-direito -, e todos os que entraram deram boa conta de si. É facto que, especialmente na defesa, não é justo tirar conclusões, perante um adversário como Cuba, mas a equipa não sofreu golos pela primeira vez, depois da sangria dos dois jogos anteriores, e essa é uma referência importante para o que fica.
No ataque, por sua vez, era difícil estar melhor. Bruma continua compenetrado no seu festival incrível para todas as horas, ao que se lhe junta o instinto de Aladje e o elegante futebol de posse alta do nosso meio-campo ofensivo, num total de 10 golos marcados em 3 jogos, certamente o melhor ataque da fase de grupos. Ter bola no último terço está no ADN desta equipa, que se sente tão bem a jogar no pé como em profundidade. O verdadeiro Mundial só começa agora, e exigirá bem mais do que talento, mas chegamos ao fim desta fase com opções certas para a matriz da equipa, óptima atitude, um sedutor e entusiasmante futebol ofensivo e o melhor jogador da competição. Começa a ficar sério.
EQUIPA - O rendimento de Bruma é monstruoso, do primeiro ao último minuto. O extremo do Sporting está numa 5ª dimensão qualquer. Para ele, tirar o pé não existe, porque todos os segundos são uma prova pessoal de que é ele o melhor. Quando arranca, já sabe que não o vão parar. Desbloqueou o jogo ao ultrapassar três adversários, um em velocidade, outro em força e o último em jeito, oferecendo o golo inaugural, e acabou com 2 assistências e 2 golos, que já fazem dele o melhor marcador português da História dos Mundiais de sub20. O talento é imenso, e o nível de confiança é quase extraterrestre. É a estrela do Mundial.
João Mário saiu ao intervalo para descansar mas, enquanto esteve, foi a referência de sempre. É outro que não faz ideia do que significa levantar o pé. Antecipa, recupera bolas, mete os olhos no horizonte e desmarca um colega. Um senhor jogador.
Aladje é uma força da natureza. Não é agressivo, tem um perfil de bom gigante, mas é quase impossível disputar um lance com ele, e é mais ágil do que parece à primeira vista. Com o tempo, está a ganhar cada vez mais à vontade a movimentar-se dentro da área, para se envolver com os colegas. De resto, continua a aparecer sempre nos sítios certos, e mantém a média de um golo por jogo.
Das alterações em relação à Coreia do Sul, Tozé afirma-se pelo talento (um mundo de diferença para André Gomes). Falta-lhe alguma intensidade, mas assistiu e marcou, e esteve nos melhores momentos da equipa, a tratar a bola em espaços curtos do último terço. João Cancelo (Benfica), na lateral-direita, é muito melhor do que Dabo. Não deu para saber a defender, mas, a sair, tem pés que nem se assemelham aos do guineense. Na extrema-direita, Ricardo (Guimarães) também marcou e assistiu, mas ainda lhe falta nervo para ter maior preponderância na equipa (melhor que Esgaio, mesmo assim). Finalmente, Tiago Silva, médio-ofensivo do Belenenses, é criativo e disponível (entrou e assistiu), e merece mais minutos.