quinta-feira, 6 de junho de 2013

Euro U21: A força mereceu mas o talento ganhou


Holanda - Alemanha, 3-2

Jogaço.

Duas equipas bastante fiéis à sua matriz cultural. A Holanda claramente mais talentosa. Toque e rasgo muito superiores, pique, criatividade. Fez uma primeira-parte brilhante, e podia ter ido ao intervalo a ganhar por mais do que dois golos. Jogou de primeira, à vontade no meio-campo alemão, com a defesa subida e sem chegar a ser realmente importunada. Deu para quase tudo, com o talento de Maher a abastecer um ataque completíssimo. À sua boa maneira, no entanto, e perante a qualidade de jogo que tem sempre, faltou-lhe a disciplina e a frieza para controlar o jogo, fora saber defender. Numa partida que estava acabada, uma oferta infantil, mal tinha o árbitro apitado o reatamento, esteve perto de deitar tudo a perder. A Holanda emigrou do jogo, aterrorizada com o bullying da competitividade alemã e, com o empate a 10 minutos do fim, esteve mesmo a um palmo de perder. Na pureza de uns sub21, porém, vingou mesmo o seu talento. Na jogada seguinte, a Laranja matou o 3-2, e deu um passo de colosso para as meias-finais.

Quem viu a Alemanha da primeira-parte terá ficado perturbado: num país que se tornou, nos últimos anos, numa autêntica fornalha de talento jovem, era difícil ter sido mais vulgar: foi tão incapaz de condicionar o jogo adversário, como de ter uma única ideia para sair a jogar. Mlapa, o gigante 9 germano-togolês, uma das estrelas da companhia, saiu mesmo ao minuto 40. Não saía nada. Ao intervalo, a Mannschaft juvenil prestava-se a uma espécie de humilhação. O génio não abunda, é um facto, e, por isso, esta Alemanha estará sempre diminuída para voos maiores. A reactividade, no entanto, foi toda ela à sua imagem, e, na segunda metade, o espectáculo de força, disponibilidade e transições rápidas, e a atitude impressionante, com tudo perigosamente perto de resultar, fez mesmo acreditar que o ditado se ia realizar uma vez mais. Desta vez, porém, a estrelinha foi madrasta e, no fim, não ganhou a Alemanha. Ganhou a melhor equipa, é verdade, mas o coração germânico merecia mais.

HOLANDA - Maher (AZ Alkmaar) é o cérebro da companhia. Número 10, saliente nas costas dos avançados, não é especialmente técnico, mas faz quase tudo com altividade e inteligência, e é brilhante a soltar a bola. Grande jogo igualmente dos três do ataque. Ola John, o extremo puro, fez uma primeira meia-hora desconcertante na meia-esquerda; Wijnaldum (PSV), à direita, mas com pique natural nas zonas de golo, marcou mesmo, depois de uma jogada individual fantástica; De Jong (Gladbach), o ponta-de-lança, desperdiçou, mas fez um jogo muito bom a baixar, a tabelar e a desmarcar, e é uma unidade nuclear desta Holanda. Martins Indi (Feyenoord), o cabo-verdiano que nasceu em Portugal, é o mais forte da defesa, um imponente central canhoto.

ALEMANHA - Todo um corredor de vénias para Lewis Holtby (Tottenham), que tem mais talento sozinho, do que quase todos os seus companheiros juntos. O jovem jogador de Villas-Boas, 10 puro, foi, possivelmente, o melhor em campo, realizando uma segunda-parte genial, onde ganhou um penalty, marcou um grande golo e achocolatou uma dúzia de bolas aos colegas. Se a Alemanha vier a dar a volta por cima, será certamente graças a ele. Apesar de muito mal batido no segundo golo, o guardião Leno (Leverkusen) acumulou duas ou três defesas de grande nível, e merece a nota.

Sem comentários: