segunda-feira, 18 de julho de 2011

COPA AMÉRICA 2011: Argentina 1-1 Uruguai (4-5 a.g.p.)


Ficará na memória como o melhor jogo desta Copa América.

O mítico clássico do Rio da Prata foi tão intenso e emocionante como poderia ser. Houve quase tudo - 2 golos, 2 expulsões, 3 bolas aos postes, tanta técnica quanto dureza, um ror de jogadas de perigo eminente e muitas fases diferentes -, e podia ter pendido para qualquer um dos lados, mas no fim seguiu em frente quem era colectiva e mentalmente superior. Para os uruguaios o desfecho é tanto mais místico pelo dia em que aconteceu: a 16 de Julho de 1950 a Celeste sagrou-se Campeã do Mundo no Maracanã, derrotando o anfitrião Brasil na final, num dos jogos mais lendários da História do futebol. 61 anos depois do Maracanazo, foi a Argentina a sentir na pele o que é ser eliminada em casa.

Acima de tudo, esta foi uma derrota sua a todos os níveis. A passagem do Uruguai não é surpreendente, porque toda a gente sabia o valor dos homens de Tabárez, mas os argentinos jogavam em casa e tinham, de longe, o mais luxuoso plantel da competição. Para cúmulo, foram eliminados depois de 50 minutos em superioridade numérica, o que fala por si.

Curiosamente a expulsão de Diego Pérez foi nociva para o futebol argentino. O Uruguai marcou muito cedo, mas a Argentina empatou com facilidade, e acabou por dominar toda a primeira parte, com Gago, Messi e Higuaín em destaque. Diminuídos, os uruguaios recorreram a um autêntico festival de pancadaria e, apesar de terem acertado duas vezes na trave (benditas bolas paradas de Forlán), a cambalhota argentina parecia uma questão de tempo, ainda mais aquando da expulsão. Contudo, em vez do cheque-mate... a Argentina assustou-se.

O Uruguai voltou dos balneários refeito do golpe e confiante na sua prodigiosa força mental, e o futebol de Messi e companhia perdeu quase todo o rasgo. Lugano, Rios e Álvaro Pereira fizeram grandes exibições, mas é obrigatório destacar o jogo extraordinário de Forlán e Suárez: a maneira como, em inferioridade, moeram a defesa argentina não estaria ao alcance de muito mais duplas por esse mundo fora.

Ainda que tarde, Batista apercebeu-se da falta de clarividência na construção e lançou Pastore muito bem, acertando também na entrada de Tévez para abanar com o ataque. O último quarto-de-hora viria a ser verdadeiramente infernal, com a Argentina a criar muitas oportunidades, e a fazer emergir Fernando Muslera como figura da noite, enquanto defendia possíveis e impossíveis. A bola não entrou, o Uruguai respondeu e Mascherano acabou expulso em cima da hora, aniquilando as últimas réstias de moral argentina.

A Alviceleste até dominou o prolongamento, mas cedo se adivinharam os penalties, tal como quem sairia deles vencedor. O esgar de Batista quando o arbitrou apitou o fim dos 120 minutos disse tudo.

A Argentina saiu pela porta dos fundos e reafirmou a sua incapacidade para arranjar um treinador que capitalize tamanho talento individual; Messi prossegue a via sacra com a Selecção; e, com a sangria que foram os quartos-de-final, os uruguaios tornaram-se nos grandes favoritos ao título. Até pode nem sempre gostar-se do seu futebol, mas é impossível não ficar rendidos à sua alma.

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