segunda-feira, 11 de julho de 2011

"Ganhar aqui é diferente de tudo" - Tour' 2011!


Foi o grande momento até agora. Não vi, pelo segundo ano consecutivo, a vitória portuguesa no Tour, mas mal soube e foi um frenesim de orgulho. Para quem cresceu a ver um mito como a Volta à França, sermos nós a ganhar é uma coisa absolutamente imensa: pese a dimensão de José Azevedo, nunca pareceu realmente que fosse chegar a nossa vez, e ter não uma, mas duas vitórias consecutivas, é fantástico. Mérito de Rui Costa, em quem sinceramente não apostaria, que tem feito uma carreira sustentada, e que leva para casa logo a primeira etapa de montanha, triunfando com vultos como Philippe Gilbert e Cadel Evans a escassos metros da sua roda. Brilhante.

Tem sido um Tour um tanto ou quanto assustador: com nove dias de corrida já estão fora Vinokourov, Higgins, Horner, Brajkovic e Van den Broecke, com acidentes de todos os tipos e feitios (o abalroamento protagonizado pelo carro da televisão francesa é indizível...), e um Contador que já caiu... sete vezes. É normal que o Tour seja acidentado, mas este ano parece o fim do mundo.

Com isto, a prova ficou incrivelmente condicionada, e desde o absoluto primeiro dia. Com um acumulado de quase dois minutos para Schleck e Evans, Contador perdeu, num ápice, todo o largo favoritismo que trazia, mesmo com o peso de um Giro monumental nas pernas, que nenhum dos rivais correu. Mentalmente o Pistolero está num farrapo e, ainda que mantenha a postura admirável de sempre na estrada, nada lhe tem saído bem. Se conseguir ultrapassar a infinidade de quedas da primeira semana, os 2 minutos de atraso e o desprezo instalado do público, e vencer o seu 4º Tour, passará a estar, para mim, ao nível de Armstrong.

Cadel Evans tem sido uma agradável surpresa. O australiano está com a corda toda, crê nitidamente que este pode ser o seu ano, e tem estado quase sempre em evidência. A etapa que ganha a Contador fala por ele, e demonstra o grande Evans que chegou a França este ano. Já Schleck não levanta ondas: escapou a todas as quedas, não se chega à frente e, pelas circunstâncias de corrida, ainda viu a sua concorrência reduzida praticamente a Evans, numa galopada de eternos segundos. O luxemburguês é o favorito e tem um dream team a trabalhar para si, o que não acontece com o rival, mas não tem feito uma época boa e não poderá continuar a ser discreto por muito mais tempo. E reforço: contra tudo e contra todos, Contador está sempre lá para ganhar.

Van den Broecke, Higgins e, principalmente, o velho Vino são baixas de vulto, restando saber até que ponto Gilbert, Tony Martin, Nicolas Roche, Gesink e Samuel Sanchez vão conseguir estar à altura. Basso, Cunego e Kloden também ainda lá andam mas não me cheira.

A RadioShack é, aliás, um case study de como sai sempre tudo mal... Com o plantel mais caro e mais sonante, a equipa chegou, como de costume, sem um candidato, e, dos "quatro chefes", já viu Brajkovic e Horner irem à vida, enquanto Leipheimer está a 5 minutos da frente, e Kloden esteve ontem no hospital... Nisto tudo haja Sérgio Paulinho que, pelas circunstâncias, poderá muito bem ter liberdade para atacar em breve, como no ano passado.

No fim da semana chegam os Pirinéus e muita coisa começará a ser respondida. Quinta-feira e Sábado, etapas imperdíveis.

1 comentário:

André Gonçalves disse...

já viste imagens do estado em que ficou o Hoogerland depois de ter sido projectado para o arame farpado, no acidente do carro?? se não viste vai ao goole imagens e delicia-te.

tenho muita pena que isto esteja a acontecer. acompanho o Tour desde os meus 12/13 anos e não me lembro de ver tanta queda e tanto abandono em tão pouco tempo como estou a ver nesta edição. é incrível! Perdem os ciclistas envolvidos, perdem as equipas e o Tour perde grande dose de espectáculo já que não páram de aumentar o numero de baixas de vulto no pelotão.

Quanto a azarados esses são definitivamente a Omega-Pharma Lotto, que já só tem 5 homens para tentar levar Gilbert à camisola verde em Paris (Broeck, Walle e Willems já são cartas fora do baralho) e acho que esse é o único objectivo pelo qual a equipa deve lutar, e a Radioshack, com quase toda a gente envolvida em quedas e atrasada na geral. Parece-me, como dizes, que Paulinho pode ter liberdade e acredito que sim. Até porque, se repararmos, Paulinho tem perdido muito tempo em todas as etapas - está inclusive nos últimos 30/40 da geral se não me engano - e espero que essa perda de tempo queira dizer que o homem está a poupar-se para a dura montanha que se avizinha e que não vacile quando lá chegarmos...

Eu, sinceramente, só vou deixar de acreditar numa possível vitória de Contador se ele abandonar a prova. De facto as coisas não lhe têm corrido nada bem, mas eu acho e acredito com toda a veemência que Contador vai recuperar este tempo que tem de atraso. Vai ser difícil? Vai! Mas pode conseguir e acho que tem condições para isso.