Duas semanas, e acabou mais uma época do Arsenal. A Taça foi a primeira a ir-se, em casa e para um Blackburn do Championship. Logo depois, e também em pleno Emirates, veio uma trituradora de Munique despachar uma eliminatória de gigantes à primeira, com uma naturalidade desconcertante e dolorosa. Hoje, por fim, no derby dos derbies da capital, Villas-Boas orquestrou a estocada final, e cristalizou os gunners fora da zona Champions.
Wenger e o projecto Arsenal já foram o que de melhor se fez em Inglaterra. A lufada de ar fresco continental que veio reeducar a Premier League no fim do velho século, e precipitar tremendamente a sua evolução. Renderam 3 campeonatos, 8 taças, 2 finais europeias e o absurdo da equipa campeã sem derrotas em 2004. Mesmo depois, quando já não estava a ganhar, o Arsenal perpetuou-se com uma estima mais ou menos unânime: Highbury era um santuário de filosofia e de bom futebol, a melhor das praças para se desfrutar do espectáculo. Essa matriz não se perdeu, de facto. O que o tempo obliterou de vez foi a capacidade competitiva.
O Arsenal não é só um clube grande e rico. É um dos 10 mais importantes do mundo. E quando se é um desses, não se pode passar 8 anos sem ganhar nada. Não se pode estar há 5 sem jogar realmente para ser campeão. E depois de ter o legado, não se pode ir completar o ano 17 da era Wenger a ser humilhado na Champions e a falhar a edição do ano seguinte, mercê de um lugar não se sabe ainda quanto no meio da tabela, e sem um troféu que se festeje.
Tal como Ferguson, Wenger já se confunde com o clube. Parecem insolúveis e, na verdade, talvez seja francamente irrealista pensar que o francês pode mesmo estar de saída. Ao contrário de Sir Alex, porém, Wenger perdeu o nervo, a centelha. Deixou de ganhar, e conformou-se. Continuava a ter a Academia, as contas em ordem, bom futebol e o estádio cheio. Infelizmente para ele, não é assim que o jogo funciona. Ferraris não servem para se ser feliz a deixá-los na garagem. O Arsenal de hoje tornou-se num gigante que agoniza à margem de si próprio. Num colosso que precisa desesperadamente de um líder entusiasmado, que queira e que saiba ganhar. Um líder que crie impacto e que exorcize o marasmo. O Arsenal de hoje precisa de um novo Wenger.
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