Ronaldo
Não se gosta de ganhar assim. Não por ter sido um roubo de igreja, mas porque o bom senso é tão vital à alta competição como o talento e o trabalho, e continua a ser um doloroso bem em vias de extinção. Nani foi de sola, tinha a obrigação de saber melhor, e é facto que partiu Arbeloa; no entanto, e mesmo com uma má leitura do lance, impunha-se um árbitro à altura do jogo, com discernimento para perceber que, mais do que aquilo não ser uma agressão, às vezes nem um caso capital justifica que se decapite o jogo que o mundo está a ver.
Conta menos porque ganhou, mas foi digno ver Mourinho admitir que provavelmente não o conseguiria contra onze, que o United foi melhor e mereceu passar, e que a expulsão não devia ter acontecido. O Manchester provou a grandeza do jogo, soltou o peso do mundo nas costas do Madrid, e tinha, de facto, a sua sorte nas mãos. Mesmo depois daqueles dez minutos fatídicos, em que tudo lhe aconteceu, ainda teve alma para ir fazer de Diego López o melhor em campo. Não serve a condescendência, mas é certo que, com todo o mediatismo do Real, quem tombou foi um dos poucos no planeta que pode dizer efectivamente que é um dos seus iguais.
Sobre pertença, Ronaldo disse tudo o que há para dizer. Não que houvesse dúvidas, mas aquele será sempre o seu lugar, aquela será sempre a sua gente. Numa eliminatória entre os dois maiores clubes do mundo, receber assim o mais temível jogador do rival é de um alcance incompreensível. Nunca vi nada semelhante, e não sei se voltarei a ver. As imagens do carinho e da reciprocidade inenarrável das pessoas, repito, num jogo entre os dois maiores clubes do mundo, perdurarão na memória, e falarão por ele muito mais alto do que qualquer colecção de Bolas de Ouro.
Foi uma semana à altura da História do Madrid, e foi encabeçada por dois que já lá têm o seu lugar.
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