quinta-feira, 21 de março de 2013

"Coisas de meninos"


"Quando me ligaram mais de uma, duas, três pessoas a dizer eu votei em ti e o voto apareceu noutro, decidi não ir [à Gala da Bola de Ouro]."
Mourinho

"Eu votei em Mourinho, sempre em Mourinho. Passou-se aqui algo muito estranho. Telefonei-lhe e disse-lhe que tinha votado nele. Não sei o que se passou."
Pandev

"Isso não me incomoda nada. Estamos a 48 horas de um jogo importante e só isso me preocupa. Trato esse tema com distanciamento. É uma coisa de meninos."
Del Bosque

As achas para a fogueira de Mourinho, sobre a Bola de Ouro, são o tipo de coisa genericamente mal recebida em todo o lado. É feio, e as pessoas não gostam de ouvir, nem mesmo as que gostam dele. É sempre uma questão de forma e de timing, não de conteúdo. Não interessa se ele tem razão ou não. Perdeu, está perdido, e o resto é mau perder.

Certo é que Mourinho, ao contrário do que muitos, com todos os espanhóis à cabeça, ainda parecem pensar, não faz coisas destas de graça, só por arrogância e por despeito. Faz porque parte crucial da sua agenda é que seja ele o congregador de ódios, e todas as horas são boas. Desta vez, em plena concentração da Roja, ainda saiu melhor. Manteve vivo o lume da rivalidade que se quer pacífica naquele balneário, e acabou a queimar para fora, de Del Bosque e dos catalães aos jornais espanhóis, que tiveram um espumante ataque de nervos, coisa que, para ele, já é só o bónus.

No entanto, Mourinho também não o fez só pelo jogo mental. Ao dar o corpo às balas, como sempre, um dos seus propósitos foi, definitivamente, alimentar o mais resiliente dos parasitas, como lhe chamou Nolan. Foi deixar florescer a ideia que já passou pela cabeça de toda a gente, mas que o politicamente correcto ordena que toda a gente auto-censure: a de que num método tão pré-histórico de votação, há evidentemente uma infinidade de espaço para a FIFA discricionar os votos como bem lhe apetecer. E se é justo dizer que as vitórias deste ano não foram um escândalo, também era legítimo esperar que tivessem caído para o outro lado. Tal como é fácil admitir que ganhar Messi e ganhar Del Bosque, bonecos aprazíveis e unânimes, que ficam sempre bem na fotografia, é bem mais confortável do que ter no palco gente barulhenta e inconveniente, ainda por cima de um país pequeno.

Os jornais espanhóis chamaram-lhe de tudo, de "patético" a "treinador mais roubado de todos os tempos." Curiosamente, meras horas depois, apareceu Pandev a dizer que sim, que foi um dos que lhe ligou a dizer que lhe tinham trocado o voto. E, em dois tempos, voltaram à tona Buffon, Rosicky ou Thiago Silva, que já disseram, para quem quis ouvir, que não votaram sequer em Messi. Mais um ror de capitães e seleccionadores de pequenos países a admitirem que nem um formulário lhes chegou às mãos, mas que, para a ficha, votaram nos vencedores.

Como sempre, só acredita na conspiração quem quer. O que não acredito é que alguém, em consciência, possa pôr as mãos no fogo pela FIFA.

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