quarta-feira, 10 de abril de 2013

O Borussia que foi Doutro Mundo


Há dias em que o trocadilho fará sentido. Depois, haverá os quartos-de-final da Liga dos Campeões de 2013, de hoje e até ao fim dos tempos cravado na pedra e na alma do Westfalen, a lembrar que, às vezes, os trocadilhos são só uma amostra da realidade.

Ao minuto 91, um terramoto com epicentro em Dortmund estava a abalar ondas de choque por meia Europa. Não era justo falar de nenhum escândalo a lesar majestades, afinal de contas, tudo o que o Málaga fez este ano foi superar preconceitos, ao passo que o Borussia, obcecado pela afirmação europeia, perdeu um campeonato por 20 pontos. Era tudo mais humano do que parecia, mas, na verdade, ninguém cria realmente que o Málaga pudesse sair da Alemanha como rei da festa.

Ao minuto 91, dava-me pena, sinceramente. O Málaga é uma equipa da qual se tem de gostar, que só pode inspirar respeito e admiração e eu, maldito vício, sempre fui crónico pelos underdogs. Desta vez, porém, não podia. Desta vez, o que aquele bom Málaga se prestava a fazer era um homicídio futebolístico. É que a epopeia europeia do Borussia estava a ser a paixão colectiva mal escondida do ano. Já não havia ninguém que não tivesse sido arrebatado pela febre amarela.

É que este Dortmund é mais ou menos irresistível. Todo ele é vitalidade, juventude e rasgo, numa Europa que tem um Barça cyborg, um Real cansado, e um Bayern e um United com demasiadas responsabilidades. É um entusiasmo, uma vontade, uma provocação e uma alma palpável, com doses pornográficas de talento, dos holofotes que Goetze tem no lugar das botas, à agilidade cristiânica de Reus e ao mundo de coisas que Lewandowski consegue fazer em dois toques, tudo naquele carrossel em que a equipa cavalga à velocidade da luz. E é, acima de qualquer coisa, um carisma verdadeiramente inacreditável, que nasce no sorriso delirante com que Klopp enche o campo, possuindo tudo o que quer que esteja à sua volta. Impagável o trabalho deste profeta genial, o homem para quem "mais vale perder do que não entusiasmar as pessoas", o louco que contrataram porque "sabia rir perante qualquer adversidade."

Ao minuto 91, a História tinha outros planos... mas não foi preciso mais do que o empate improvável de Reus, para que o próprio Málaga percebesse que já tinha perdido. Como uma presa ferida, que vê o leão embalado ao fundo para a última carga. Como quem sentiu todo o Westfalen a saborear o sangue, na mera antecipação de esmagar o peso do mundo nas suas pequenas e humildes costas. Para o milagre de mais uma noite sagrada que a Liga dos Campeões não irá esquecer, não teria chegado o seu excelso futebol. Chegou o facto do gigante amarelo ser qualquer coisa espectacularmente maior do que isso. Este Borussia é uma equipa com factor-x, e deus sabe onde isso poderá parar.

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