terça-feira, 9 de abril de 2013

The Comedy Central Roasts. Amor à primeira vista


É começar a ver, e ficar a pensar que outro raio andámos a fazer neste tempo todo.

Adeptos da ironia, partidários do sarcasmo, defensores do humor negro, consumidores do mais ácido que pode haver, esqueçam tudo o que já viram. Não era a sério. Os assomos de arrojo nos Globos ou nos Óscares? Pff, coisas de meninos. Stand-ups sanguinários a solo? Fraco. Vejam um Roast qualquer, e vão pensar que estão a ver um sismo. Nem vão acreditar que se está realmente a dizer metade daquilo. É tão outro campeonato, que parte substancial da experiência é essa: estar absolutamente deliciado e sempre mais ou menos chocado, ao mesmo tempo. Virtualmente, não há nenhuma piada que possa ficar de fora: escândalos, quanto mais hardcore melhor, não são mais do que o aperitivo; depois cabem todos os boatos, todas as ilegalidades, todas as vergonhas mais mistificantes, e cabem agressões com raça, religião, sexo, família, doença, deficiência ou morte. Cabe tudo. E ficamos só a salivar incrédulos, à espera do próximo golpe, electrificados de tão gloriosamente bom que aquilo é. Se existe um expoente no humor, o expoente é um Roast. Não há nada assim, e não é possível fazer melhor do que aquilo. É a comédia como era suposto que a comédia fosse num mundo ideal. É um projecto perfeito.

Mas o que é um Roast afinal? Deslumbrem-se: um Roast é o evento no qual uma personalidade famosa se submete, pela sua livre vontade, ao atropelo (com todas as letras) de um conjunto de outras caras conhecidas. E porquê? Porque esses "roasters" são amigos, fãs ou gente do mesmo meio, e porque toda a génese da cerimónia é prestar homenagem a quem lá está no foco. Ser "assado" pelos seus pares é, na verdade, considerado uma honra genuína , que não é almejável por qualquer um. O "roastee" priva-se, por isso, de assimilar qualquer piada como um insulto, e prova, assim, a grandeza da sua natureza e do seu fair-play.

Venere-se a inteligência, o alcance, a capacidade de encaixe e a maturidade, enquanto sociedade e enquanto televisão, para fazer acontecer e teletransmitir uma coisa destas. Faça-se a vénia à espectacular subversão de fórmulas: consegue-se fazer humor de uma agressividade inenarrável, com inteligência suficiente para perceber que se plasma ali a consideração e o carinho por pessoas que valem a pena distinguir. E como tudo ali tem a poesia da democracia politicamente incorrecta, grande parte da acção são os "roasters" a terem o desportivismo de se ofenderem mutuamente, sendo que o fim é sempre marcado pela vingança sem pudor do senhor da festa.

Há 10 anos que a Comedy Central, estação-casa do South Park, organiza estes Roasts, à média de um por ano. Já foram cozinhados nomes como Charlie Sheen, William Shatner, Donald Trump ou David Hasselhoff. Já foram "júri" (sempre à volta de uma dezena de pessoas) comediantes do stand-up à televisão, e personalidades tão díspares como Snoop Dog, Mike Tyson ou Larry King. Em todas as edições há um mestre de cerimónias ("The Roastmaster"), e, em três das últimas quatro, o posto foi do evidentemente impagável Seth MacFarlane.

Quem não conhece, que faça imediatamente o favor a si mesmo de começar a sacar esta mina de ouro em forma de torrent. Depois não é preciso agradecer.

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