terça-feira, 2 de abril de 2013

Os adeptos também são presidentes


"A vitória de Bruno de Carvalho nas eleições para o conselho directivo do Sporting Clube de Portugal representa a recusa dos seus sócios e adeptos em assistir à degradação, corrupção e eventual aniquilação do clube segundo os moldes que até agora nos foram propostos. Soubemos, felizmente, optar por uma decadência digna: teremos como presidente um dos nossos, um gajo que vive o clube disparatadamente, e não segundo o filtro do lazer, do passatempo, da "experiência nova", do conforto, do camarote bem posicionado e do diletantismo aristocrata (e nem vou entrar pelo lodo dos "interesses")"
"Maradona", em mais um texto brilhante n'A Causa foi Modificada

No meio da pior das suas piores épocas, o Sporting consegue a sua única vitória verdadeiramente extraordinária, no primeiro jogo oficial depois da sua eleição. Sporting 10º contra o Braga-novo-grande a defender o 3º lugar, em pleno Minho. No primeiro acto oficial, estreou-se como Presidente em funções não na tribuna, mas no próprio banco, lado a lado com o Professor e com os miúdos. Lado a lado, como quando se quer dar o exemplo. Os miúdos desperdiçaram duas vantagens e, à entrada do quarto-de-hora crítico do jogo, ficaram reduzidos a dez, de joelhos, à espera do golpe de misericórdia. No primeiro jogo oficial depois da sua eleição, porém, um ponta-de-lança mal-amado e já vendido achou de carregar toda a dignidade do mundo, e assinou, de hattrick e ao minuto 90, uma vitória das que vivem nas histórias.

Mal soou o apito, Bruno de Carvalho voou do banco. Punhos cerrados, sorriso a toda a largura, sprints mais fortes do que ele. Ele, um Presidente eleito, na formalidade do dia de posse, festejou com a alegria genuína e desconcertante de um miúdo, do miúdo que, por certo, entrou pela primeira vez em Alvalade há muitos muitos anos, e que se fez homem a viver e a sofrer, semana após semana, naquelas mesmas bancadas. Ver tamanho entusiasmo tão impossível de conter, vindo de quem manda, tem de significar alguma coisa para quem gosta de futebol. Na era em que se multiplicam os gestores, as SAD e o just business, o futebol impessoal mais dos gabinetes do que das bancadas, ter quem viva os clubes assim é, necessariamente, a condição primordial para que eles possam sobreviver.

Bruno de Carvalho precisará de mais do que alma e vontade para ser o milagre que acuda o clube, e a razão diz que provável, é que ele falhe. Certo é que é sportinguista até à medula. Para qualquer adepto, esse é exactamente o líder ao lado do qual vale a pena lutar.

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