"I have no choice but to direct my energies toward the acquisiton of fame and fortune. Frankly, I have no taste for either poverty or honest labor, so writing is the only recourse left for me." Hunter S. Thompson
sábado, 18 de janeiro de 2014
O pós-Globos e o pré-Óscares
Ainda não tinha havido tempo para fazer o balanço do pontapé de saída e como a temporada dos prémios não espera por ninguém, há que aproveitar a boleia para também avaliar, desde já, as nomeações da Academia. Com uma ou outra surpresa maior e as habituais desconsiderações imperdoáveis, confirma-se a ausência de um candidato que vá açambarcar estatuetas. A tendência é a de dividir para reinar. Com os Critics Choice a também já terem laureado quase um a um os vencedores dos Globos, os favoritos já não são, por ora, branqueáveis.
A cerimónia
Antes demais, voltar a Domingo e à envolvência dos Globos de Ouro. Faltaram umas quantas caras conhecidas, mas plasmou, como sempre, aquele delicioso carisma informal dos prémios, de toda a gente na mesa e de copo na mão, a fazer conversa cruzada, a sorver o ambiente e a rever amigos, mais do que a fazer contas ao que se ganha e ao que se perde. Aquele que, no fundo, sempre foi e continua a ser o seu traço mais marcante. O alto da noite foram os discursos. Os Globos 2014 tiveram um dos melhores conjuntos de aceitações de que me lembro, com DiCaprio acima de todos, mas igualmente com McConaughey, Jenny Lawrence e Amy Adams, Amy Poehler e Breaking Bad. O hosting, pelo contrário, esteve à margem de outras noites e, sobretudo, do que Tina Fey e Poehler tinham feito no ano passado. Com duas ou três grandes tiradas, mas com um registo abertamente morno e baço, a soprar o fantasma de Gervais a cada curva.
Slave e Gravity racharem prémios por linhas tortas
Era antecipável que acontecesse, mas saiu exactamente ao contrário de como desejava. 12 Years a Slave levou o prémio mais ambicionado da noite - que já repetiu no Critics Choice - e confirmou-se como favorito ao Óscar, chancelando Alfonso Cuáron o prémio individual. A ironia é que, se na Realização, Steve McQueen foi melhor mas a vitória de Cuáron será sempre inatacável, já no plano fílmico, Gravity é necessariamente superior a Slave. Como, de resto, já é normal nestas alturas, a adoração a que a elite da crítica votou este último, e que o carregará até ao dia D, dá-me um nó ao discernimento. Atentando, por sua vez, à corrida a melhor filme da Academia que lhe sucedeu, destacar uma decisão integralmente incompreensível: deixar Rush à porta quando, não só é melhor filme do que metade dos nomeados, como só foram ocupados nove dos dez lugares possíveis nas indicações...
Os anéis de American Hustle
A nova jóia de David O. Russell foi a mais lucrativa da cerimónia de Domingo e, a meio da semana, não fez por menos, repetindo o feito histórico alcançado por Silver Linings Playbook no ano passado: as sete grandes nomeações da Academia. 30 anos depois, O. Russell garantiu-o duas vezes seguidas!, fazendo o absurdo de repetir o melhor filme do ano e de confirmar, para lá de qualquer dúvida, o seu toque de Midas. Isso tudo e a grande forma de Hustle deve, ingratamente, ser relativizada. A vitória em Musical/Comédia só foi possível pela partição de categorias dos globos, o mesmo valendo para o triunfo de Amy Adams. Não têm ambos hipóteses nos Óscares. Só Jenny Lawrence assumiu, de facto, uma candidatura efectiva à segunda estatueta consecutiva. Pessoalmente, Hustle arrebatou três globos mas a história da noite conta-se com a dolorosa derrota em Argumento Original, no qual acreditava piamente. Her, de Spike Jonze, venceu e já acumulou, igualmente, o Critics Choice, deixando meio caminho feito. Como ainda não vi, vou evitar destilar ódio com convicção, para já.
O fenómeno Dallas Buyers
Se a propensão por Jared Leto era evidente, já a vitória de Mat McConaughey foi uma surpresa boquiaberta. A minha opinião sobre o filme já a deixei bem explícita: papéis extremamente polarizados, com o clamor por prémios colado à testa mas que, preto no branco, ficaram a muitas milhas do que podiam ter feito. Para mim, tanto num caso como noutro, a sugestão da sua figura real, e não o que fizeram efectivamente, tem sido a medida do seu reconhecimento. Escusado será dizer que olho para Dallas Buyers Club como o cavalo de Tróia do ano e ainda me custa a acreditar no estrago que pode vir a causar. Em particular, ao tirar autenticamente das mãos de DiCaprio o seu - e é surreal escrever isto - primeiro Óscar. Mas também pela naturalidade com que já se atesta a derrota de Fassbender em Secundário, numa exibição terrivelmente superior.
O desterro de Captain Phillips
Não era um candidato "para ganhar", mas nada justifica o grosseiro desprezo da Academia. Que Tom Hanks tenha ficado fora da corrida a Melhor Actor é, sem margem para questões, o absurdo do ano. Pondo-o de uma forma simples, a sua última cena, apenas, é mais nomeável do que somado aquilo que fizeram McConaughey e Ejiofor. É de um patamar alheio a um ano ou a um filme que correu bem, coisa a que só muito poucos têm capacidade de chegar. Do mesmo modo, em Realização, parece-me que Paul Greengrass não podia ter sido esquecido. A sua direcção é intensa e cirúrgica, temporizada brilhantemente e fulcral para o resultado final. Salvou-se, ao menos, a indicação para Melhor Filme.
O adeus quase pleno de Breaking Bad
Em ano de despedida, Breaking Bad ganhou a noite televisiva no Beverly Hilton Hotel, como se esperava, com aqueles que foram, apenas, os seus dois primeiros globos. Todavia foi assaltado onde jamais poderia: Aaron Paul passou amargamente à História sem ganhar um prémio que merecia por decreto, mais do que qualquer outra pessoa naquela sala. Robin Wright, por sua vez, marcou justamente o ponto de honra de House of Cards.
A escalada vai continuar até 2 de Março, com os prémios de todos os Sindicatos e os BAFTA.Tempo para saldar as contas que faltam e avaliar o alcance de Nebraska, Her, Philomena e Osage County, e o esquecimento de All is Lost e Inside Llewyn Davis.
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