terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Chico & Rita



É um 2D nomeado para o Óscar de Melhor Animação.

Chico & Rita é um filme cheio de charme, mas que se perde ao transformar-se numa novela. Conta a história de um casal de jovens cubanos que se apaixona à entrada dos anos 50, e segue os encontros e desencontros de ambos, muito especialmente a sua busca pelo sonho americano. A primeira parte do filme é deliciosa: transmite a sedução de uma Cuba poética de outro tempo, a Cuba dos gringos, das festas, da paixão e do calor caribenho das noites longas de Verão. O romance entre um pianista magnífico e uma cantora deslumbrante é sensual e empático, e a presença incontornável da música latina e do jazz pinta um ambiente absolutamente cativante. A narrativa em flash-back também é uma boa opção, pela nostalgia muito genuína.

Com o decorrer da história, perde-se, porém, parte substancial desta magia. A acção envereda por um piloto automático de clichés que já vimos um pouco por todo o lado, e as linhas finais não diferem muito de uma qualquer novela mexicana. Com arrojo e novidade na história, Chico & Rita seria um filme inesquecível. Ainda assim, é a melhor Animação nomeada pela Academia este ano.

7/10

Este senhor anda a jogar este mundo e o outro, mister Bento

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O Porto anunciado e o Sporting implodido


Foi-se a Taça com estrondo, a Champions pela porta dos fundos e, com a primeira derrota em mais de dois anos, é a vez do Campeonato começar a fugir das mãos. 5 pontos não são, de facto, irrecuperáveis, mas, para este Porto de Vítor Pereira, pelo menos parecem. Em Barcelos, num campo difícil, e sabendo da vitória do Benfica na véspera, foi desolador o que o Porto voltou a não jogar: zero de criatividade (e a aberração de deixar Belluschi no banco...), zero de objectividade, e, mais indiscutível impossível, nenhuma oportunidade de golo até ao Gil estar a ganhar por... 3-0. Há muito tempo que este Porto parou de brilhar; sem Hulk, contudo, a equipa nem consegue esboçar o piloto automático. À primeira adversidade, o campeonato eficiente ruiu como um castelo de cartas, e Vítor Pereira - que continua a não ajudar nem com o discurso, nem com a motivação, nem com as opções tácticas - é, cada dia mais, um treinador à espera de um milagre. Até ao início de Março, com a eliminatória frente ao City e a visita à Luz, saberemos se eles existem.

O Sporting é um verdadeiro case-study. No fim de Novembro, quando jogou com o Benfica, a equipa estava a 1 ponto do líder; hoje, está a 13, e pode acabar a 18ª jornada... no 5º lugar. Nos últimos 10 jogos só ganhou 2, e conseguiu complicar de forma absurda a passagem às meias-finais da Taça de Portugal e da Taça da Liga. Pelo caminho, a euforia de Alvalade tornou-se num mar de depressão e de casos. Peseiro tem razão quando diz que só um lunático pediria um Sporting campeão este ano, mas estar, no fim do Janeiro, completamente fora da luta do título, e com o próprio pódio em risco, é um desastre, seja de que ângulo for.

Domingos pôs o Sporting a jogar o melhor futebol em muitos anos, fez um primeiro terço de campeonato ao nível dos rivais, ganhou o grupo na Liga Europa e é o único grande que segue na Taça. Mas, como é óbvio, para um investimento de 50 milhões de euros na equipa de futebol, isso nunca será suficiente. Domingos deu vida à equipa, mas não foi capaz de mantê-la ligada à máquina, e não tem sabido gerir o grupo a nível humano (Neto e Ribas, dois jogadores banais, a jogarem poucas horas depois de chegarem, Bojinov crucificado, etc).

Apesar de tudo, digo para Domingos o que disse para Jesus no ano passado: demiti-lo seria um erro tremendo. Os feitos de Domingos falam pela sua competência, e o Sporting dificilmente conseguirá arranjar algum treinador muito melhor do que ele. Além de que dar-lhe, ao menos, dois anos para trabalhar, é o mínimo dos mínimos num clube que, convém não esquecer, não tem estrutura nenhuma.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Bridesmaids


É bem-disposto, descomplexado e faz comédia do ângulo feminino, o que não é particularmente comum. Annie Walker (Kristen Wiig, que protagonizou e co-escreveu o filme!) é a madrinha de casamento da melhor amiga, uma quase quarentona solteira e cujo negócio faliu, e que, no decurso das incumbências relativas à função, vai sentir que está tudo a ruir à sua volta: relação com a noiva incluída.

Kristen Wiig, que faz parte, actualmente, do elenco do histórico Saturday Night Live, foi uma bela surpresa. É bonita, perspicaz, e tem uma piada ousada e absolutamente natural. Desmistifica um bocado aquela imagem que estamos habituados a ver de que smart ain't sexy, e valeu-lhe a nomeação para Melhor Actriz Comédia, nos Globos, a que juntou a de Melhor Argumento Original, nos Óscares.

Melissa McCarthy é o outro destaque, como irmã do noivo. É despudorada, sexual, às vezes masculina, e razoavelmente delirante, o que lhe rende uma grande performance, e a faz correr, muito justamente, pelo Óscar de Melhor Secundária este ano.

Bridesmaids não é inesquecível, mas é uma comédia bem passada, com uma certa originalidade.

6/10

"Os árbitros são arrogantes e ameaçam-nos"


7 pontos de atraso e, de repente, o conto de fadas torna-se bem mais humano: até o Messias já se sente prejudicado... pela arbitragem. Melhor do que isto, só um dos mestres de circo (Dani Alves, Piqué, Mascherano, Villa, Pedrito, ou, claro, o rei Busquets) vir reforçar a indignação.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Gabão-Marrocos, futebol devia ser isto


Jogo verdadeiramente apaixonante, que torna impossível que não nos rendamos à magia da CAN. Marrocos esteve a ganhar até aos 70', o Gabão virou o jogo em 2 minutos, Marrocos empatou nos descontos mas, na última jogada, aos 90+5, os gaboneses tiveram um livre directo para bater... e o recém-entrado Bruno Mbanangoye deu-lhes a vitória com um pontapé do outro mundo. O Gabão-Marrocos foi o futebol no seu estado puro, espectacular, electrizante e eufórico, do campo às bancadas. Foi o futebol que já não existe, como era bonito que fosse sempre.

Marrocos entrou forçado a recuperar a compostura, depois da lição de maioridade da Tunísia no primeiro jogo, mas Gerets decidiu abdicar de tudo o que distingue a equipa: a técnica e a criatividade. O treinador deixou Boussoufa, Taarabt e Amrabat no banco, e investiu numa equipa mais pragmática e com dois avançados, ceifando toda a vida ao futebol marroquino. A táctica até deu frutos durante muito tempo, mas nem um penalty nos descontos, qual justiça poética, viria a chegar para manter vivos os Leões do Atlas. Com tanto futebol para oferecer, Marrocos sai desta CAN de uma forma desoladora, a jogar pouco e mal, e muito por culpa de um Erik Gerets pequeno demais para tamanho talento.

Já o Gabão é o primado da pureza do futebol. A equipa começou por respeitar o adversário em excesso, pagou o cinismo marroquino, mas desde o primeiro minuto da segunda-parte que decidiu pôr tudo em campo. O resultado foi um verdadeiro festival de futebol ofensivo, de uma selecção entusiasmada e entusiasmante, aversa a quaisquer amarras tácticas. Com um poderio físico avassalador, a jogar rápido, em força e pelos flancos, a bombear cruzamentos e a rematar, os gaboneses inventaram um sinfonia ininterrupta que desterrou autenticamente o adversário.

Os momentos após o 2-2 marroquino, nos descontos, dizem tudo sobre o coração gabonês: a equipa ficava, mesmo assim, a precisar de um único ponto para seguir em frente... mas fez-se ao ataque como se a sua vida dependesse disso, e, em África, ainda há lugar para o futebol romântico. Jogaço impagável do pequeno Gabão (1,5 milhões de habitantes!), que se qualificou para os quartos-de-final da CAN pela 2ª vez na sua História, e fez um novo fã deste lado.

Gabão - Pierre Aubameyang é portentoso. O avançado (22 anos) do Saint-Étienne é todo ele uma estrela em potência. Começou mais no centro do ataque, mas não tem nada de número 9. A vir de trás para a frente, pelo contrário, é uma verdadeira locomotiva. Vagueia pelas alas, e depois explode, em força e em remate. Marcou o seu 2º golo na competição, e ainda fez uma assistência. Não é à toa que, logo depois da estreia, já o consideravam uma das estrelas da CAN. O veterano Daniel Cousin (34 anos) foi a chave da revolução na 2ª parte. Poderosíssimo, veio martirizar a defesa marroquina como referência do ataque, e marcou um grande golo à ponta-de-lança, coisa que os marroquinos nunca tiveram. Eric Mouloungui (28 anos), extremo-esquerdo do Nice, contrapõe em técnica o que a equipa esbanja em força. E ainda merece uma palavra Ecuele Manga, central de 23 anos do Lorient, absolutamente imponente.

Marrocos - O capitão Kharja foi, até ao último minuto, a grande inspiração da equipa. Um médio de contenção que marcou todos os 3 golos da Selecção na CAN, o que diz quase tudo sobre a sua personalidade e o nível a que joga. Um verdadeiro líder que arrastou sempre a equipa, e que merecia mais. Mehdi Carcela (22 anos, Anzhi), foi a única centelha de criatividade da equipa, pela extrema-esquerda.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Boss, season 1


"Do you know who the fuck i am? Right now, in this moment, i'm the angel of fucking death for you. And the next few minutes are gonna feel like prediction itself if you dont't tell me what i need to know"


O Boss é um homem: o venerável Mayor Tom Kane (Kelsey Grammer), presidente eterno da Câmara de Chicago, um líder histórico e incontornável, temido e odiado, e a história é a da sua perpetuação no poder. Kane é um monstro político implacável e impiedoso, senhor de uma ira majestática, e que é capaz de rigorosamente tudo para manter a cidade nas suas mãos.

A acção começa, ironicamente, no momento em que este descobre ter uma doença terminal altamente degenerativa, que o vai levar a pôr tudo em causa. Desde logo a reaproximar-se da filha toxicodependente, mas também a questionar-se a respeito do seu legado, duvidando se o que teve de fazer tinha um propósito para o seu povo, ou se, a dada altura, foi o mero meio para eternizar-se no cargo. Performance absolutamente icónica de Kelsey Grammer, e que lhe valeu o Globo de Ouro deste ano para Actor Drama.

Boss é um excelente drama político, que não aborda o sistema apenas do ângulo linear da corrupção pela corrupção. Fala de desencanto, abuso de poder, conspiração e traição, mas mostra que a política é uma realidade muito complexa, que se traduz numa luta incessante pelo poder, onde não existem, no fim de contas, os bons e os maus. A única certeza é que é preciso sacrificar muitas coisas para conseguir algumas. O limite é saber distinguir quando é que existe um desígnio, e quando é que os vícios já consumiram tudo. E Boss ainda aborda o jornalismo, na sua simbiose intrínseca com o poder, investindo numa narrativa pragmática mas romântica qb.

Os dois melhores secundários são os conselheiros do presidente. Ezra Stone (Martin Donovan) é o histórico e fiel braço-direito, um imprescindível, o cérebro que o aconselhou durante todo o caminho, um verdadeiro peso pesado da assessoria, conhecedor do meio como ninguém, e capaz de ler superiormente qualquer situação. Kitty O'Neill (Kathleen Robertson) é uma espécie de relações públicas, uma mulher extraordinariamente sensual, que é recente no meio, mas que aprendeu muito rápido, e que se faz valer pela criatividade.

Ainda merecem referência Alex Zajac (Jeff Hephner), o contagiante candidato a Governador do Illinois, um jovem ambicioso, perdido por mulheres, e com dotes de retórica prodigiosos; e Sam Miller (Troy Garity), um abnegado, incómodo e irascível jornalista, sempre a farejar a verdade.

A série (8 episódios) não é perfeita, o que é notório nalguns desfechos pouco felizes no fim da temporada, mas é, ainda assim, um retrato belíssimo da política, alicerçado, nunca é demais reforçar, numa prestação monumental de Kelsey Grammer.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Dont stop believin


Como escreveu a Marca, caiu um Madrid, pela primeira vez, muito superior.

O jogo verdadeiramente impressionante do Real não chegou para salvar a Taça do Rei, mas alumia o caminho para o que falta. Afinal é possível. Pena que tenha sido preciso chegar ao limite para o demonstrar.

MVP, um prodígio chamado Mesut Özil.

Não bastava o NCIS andar com audiências de 17 milhões de pessoas, e ela ainda arranja tempo para se estrear em Hollywood

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Puss in Boots


É um bocado de Animação razoável, com um protagonista muito bom, e que, no resto, cumpre os serviços mínimos em 1h30m. Puss in Boots não tem nada de muito criativo, nada de muito denso, e monta a sua trama com base numa narrativa recorrente das histórias tradicionais: passado, traição, redenção, regresso. Conta a história do Gato das Botas como um orfão que cresceu numa rústica vila hispânica, de onde teve de fugir depois de ter sido traído pelo seu irmão de sempre. A acção começa 7 anos após esses eventos, e segue os caminhos do reencontro entre ambos, no cumprimento de um sonho comum e no regresso a casa.

O filme consegue fintar alguma superficialidade com a identificação do passado e do lar comum em pano de fundo, mas investe, sobretudo, numa abordagem pouco ortodoxa da história - passarolas voadoras, gansos gigantes, um castelo no céu, etc. - na tentativa de ganhar algum poder de distinção, o que acaba, pelo contrário, por fazer com que seja difícil levá-lo a sério.

Só o próprio Gato das Botas de Banderas é um verdadeiro ás de trunfo. Um apaixonante Don Juan, ladrão romântico e amante irresistível, que deverá voltar ao cinema mais tarde ou mais cedo, e exclusivamente pelo valor próprio que tem. Com um texto de outro nível, acredito que se pudessem fazer coisas muito interessantes com ele.

Com a exclusão de Tintin e Cars 2, Rango, que está longe de ser um grande filme, é, até agora, o mais merecedor do Óscar de Animação, no ano mais pobre a esse nível desde que me lembro.

6/10

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Tinker Tailor Soldier Spy


Pondo-o de uma maneira simples, é a maior desilusão do ano.

Um filme britânico sobre espionagem na Guerra Fria, com Gary Oldman, Mark Strong, John Hurt, Colin Firth, Tom Hardy e mais um mão cheia deles parecia uma aposta de risco zero.

O resultado, contudo, é incompreensível. A nível de narrativa, é um dos filmes mais infelizes que vi nos últimos tempos: flash-backs, flash-forwards, cortes e recortes, subentendidos mal entendidos, tudo num perfeito exercício de auto-absorção que, mesmo a ter por base a escrita de Le Carré, falha completamente no grande ecrã. O sueco Tomas Alfredson fez um filme críptico, difícil de assimilar, pretensioso e fechado sobre si próprio, sendo complicado acompanhar o próprio desenrolar da acção, tal é a falta de critério com que se vai colando tudo aquilo. Ver Tinker Tailor Soldier Spy é cansativo, e, no fim, não há ponta de grandiosidade.

O argumento tem uma ou outra linha interessante (a relação do protagonista com a mulher que nunca aparece, a lealdade entre alguns dos membros da cúpula mais alta do MI6), mas está longe de salvar o filme, e não merece a nomeação para Argumento Adaptado que teve hoje. O cast, tão recheado, acaba por anular-se mutuamente. Para mim, que gosto muito dele, Gary Oldman também não justificou a nomeação para o Óscar. Bastou-lhe ter postura, num papel fácil, e muito menos desafiante e poderoso do que a maioria das coisas que costuma fazer. Os melhores foram Mark Strong, a personagem com maior empatia, e Benedict Cumberbatch, underdog num elenco tão celebrado, e que tem os momentos mais tensos do filme.

Tudo somado é quase nada, perante tamanho potencial.

5/10

Óscares, o rascunho


Numa cerimónia com um punhado considerável de surpresas, o grande motivo de festa foi, sem ponta de dúvida, as nomeações do extraordinário The Tree of Life para Melhor Filme, e de Terrence Malick para Melhor Realizador. De facto, depois do vazio total a que foi votado nos Globos, não era de todo expectável que o filme se levantasse nos Óscares. Claro que as nomeações de ambos não os colocam perto da vitória, mas previnem o crime de não reconhecer uma verdadeira obra-prima, um exercício artístico tão monumental, que continuará a ser lembrado daqui por muitos anos.

Nos Secundários, uma grande notícia e uma grande desilusão: Nick Nolte, esquecido nos Globos, foi resgatado com toda a justiça do mundo, fruto da sua performance de dar nós na garganta, em Warrior; já Shailene Woodley, a revelação de The Descendants, falha de maneira incompreensível a lista final. Para mim, foi simplesmente a Melhor Secundária do Ano.

Também na Realização, sublinhar obviamente a confirmação de Woody Allen, e, em Argumento Original, saudar a presença de J.C. Chandor pela sua grande estreia nestas andanças, com Margin Call.

Por fim, o mais incompreensível de tudo: Animação. Tintin, que tinha acabado de ganhar o Globo, fica de fora, em benefício de um dos filmes do género mais pobres dos últimos anos: Kung Fu Panda 2. Até Cars 2, que não tem, claramente, o nível a que a Pixar nos habituou, e que falha igualmente a lista, era muito, mas muito melhor.

Óscares a 26 de Fevereiro. Quando for tudo visto, faço a Antevisão.

A justiça poética


Quando já ninguém contava, The Tree of Life nomeado para Melhor Filme, e Malick para Melhor Realizador!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

CAN 2012: o primeiro jogo grande


O farto talento individual de Marrocos contra a imperturbável maturidade competitiva da Tunísia. No fim, ganharam mesmo os tunisinos, num jogo gerido no limite da perfeição, à italiana: abdicaram da bola, inauguraram de bola parada, e mataram o jogo no contra-ataque. Leitura brilhante de Trabelsi no banco, que preparou, primeiro, uma teia para o virtuosismo marroquino, e injectou, depois, a criatividade que lhe viria a garantir a vitória. A Tunísia não joga melhor, de facto, mas, mental e tacticamente, é uma selecção temível.

Marrocos terá necessariamente um dos melhores plantéis da competição. É uma selecção romântica, que dá gosto ver pela criatividade, o trato da bola e o rasgo ofensivo. Porém, ao contrário da sua génese norte-africana, é uma equipa cativante de mais e cerebral de menos: não consegue parar o jogo, ser rigorosa atrás, e desterra de mais à frente da baliza. Além disso, Eric Gerets prejudicou em vez de ajudar: para o ataque da última meia hora trocou o seu melhor jogador - Boussoufa - por mais um ponta-de-lança, e matou boa parte da clarividência da equipa.

No pressing final os marroquinos ainda podiam ter empatado, mas não chegou. A situação não é confortável, ainda por cima com o Gabão, a equipa da casa, no grupo, mas fica a certeza de que se Marrocos não seguir em frente, foi exclusivamente por culpa própria. Quanto à Tunísia, uma equipa composta em grande escala por jogadores do país, temos candidato: talvez falte algum talento, mas o estofo dos campeões está lá.

Marrocos - Boussoufa é classe pura. Nas costas do perdulário Chamakh, foi a luz da equipa durante todo o tempo em que esteve em campo, com a sua mistura de toque, drible curto e passes açucarados. A saída do médio do Anzhi foi o princípio do fim para Marrocos. O duplo pivot a meio-campo também esteve num nível muito alto: Kharja, o capitão, menos virtuoso e mais pragmático; Belhanda, 21 anos, revelação do Montpellier, mais perto de um box-to-box, e também de um absoluto requinte técnico. Na extrema-direita, uma nota ainda para Amrabat, importante a carrilhar jogo.

Tunísia - Numa selecção colectivista, quem mais brilhou foi o guardião Mathlouthi, do Étoile du Sahel, com 3 ou 4 defesas determinantes. O canhoto Dhadouadi, 24 anos, do Club Africain, foi a chama no ataque durante a maior parte do jogo, mas o verdadeiro espectáculo estava guardado no banco: o extremo Msakni (21 anos, Espérance Tunis) inventou a melhor jogada da competição até agora, e, magistralmente, acabou com o jogo.

Chamberlain


Jogo honesto do Arsenal, mas este ano não dá para mais. Se com Nasri e Fabregas já não chegava, não ia ser agora. Mesmo assim, nem tudo é mau: nas canteras de Wenger cresce mais um nome para perdurar. 18 anos feitos em Agosto, foi titular pela primeira vez hoje. Extremo, parece um pequeno touro, pela compleição física e pela voracidade com que vai para cima dos adversários. Tem aceleração, mas não se esgota aí, como o velocista Walcott no outro flanco; o que o evidencia é, aliás, a potência, o drible curto e o critério assertivo com que decide, tanto mais surpreendente para alguém da sua idade: Alex Oxlade-Chamberlain. Vai dar que falar.

domingo, 22 de janeiro de 2012

The Descendants


Acho que é daqueles filmes de que é inevitável gostar. The Descendants é um drama familiar, com a dor, a união e a tragicomédia típica de qualquer família, e conta a história de um pai que, no momento em que está a perder tudo, tem de fazer uma ponte com as suas duas filhas, e reaprender a sê-lo, em virtude do coma da mãe. A realização de Alexander Payne transmite-nos uma simbiose, às vezes deliciosa, com o espaço envolvente - o sedutor Hawai -, para o que também contribui a muito agradável banda sonora. Mas, não sendo o filme mais criativo do mundo, é o argumento adaptado, também de semi-autoria de Payne, o que torna uma história que já vimos muitas vezes num retrato com valor próprio e cheio de alma, que vai viver, acima de tudo, da grandeza das prestações individuais.

Clooney é brilhante, provavelmente num dos seus primeiros papéis sem pinga de sex-symbol. É o quarentão discreto que ficou sem rede, que já não pode ser o back-up parent, e a quem se exige que passe a ser bom o suficiente para criar duas raparigas. A impreparação natural, e os vários debates com que é confrontado pelos desenvolvimentos da história, desfazem-no em impotência. Clooney é o homem que está a perder tudo ao mesmo tempo, e que vai agarrar-se às suas certezas de sempre, às suas coisas de sempre, para não ser levado pela corrente. Uma performance despretensiosa e de um nível altíssimo, que vai, muito provavelmente, render-lhe o merecido Óscar.

Mas nem só de Clooney se fez o filme. Shailene Woodley é, obrigatoriamente, uma das revelações de ano. A belíssima californiana de 20 anos é um arraso completo, na pele da filha mais velha, mais problemática, e com as suas próprias razões. A ponte entre a revolta rebelde e a maturidade, fá-lo magistralmente, afirmando-se como um pilar impagável para o pai, e como a alma da casa. Além da profundidade interpretativa, tem uma presença incontornável. É a melhor secundária que vi este ano.

The Descendants tem quase tudo: uma história rica a nível humano, um belo trabalho de Alexander Payne na adaptação do argumento e na realização, e performances perfeitamente oscarizáveis de Clooney e Shailene Woodley. É muito bom... mas não é, de facto, o filme do ano. Mesmo que ganhe o Óscar, como já ganhou o Globo, não tem a produndidade de The Help e, pessoalmente, não bate o rasgo criativo de Midnight in Paris e The Tree of Life.

7/10

sábado, 21 de janeiro de 2012

Cavaco, a história de um mártir


Cavaco tem a candura de um anjo da guarda, e o espírito de sacrifício de um Cristo. Que sorte a nossa ter estadistas como Cavaco nestes dias difíceis. Cavaco é o visionário que avisou da crise mas ninguém quis ouvir, é o lúcido que clamou que, pelo bem do país, se respeitassem os intocáveis mercados, para depois ser o justiceiro que exortou a que, pelo bem do país, nos revoltássemos contra esses indignos mercados, e é, agora, o grande líder que passa por estes tempos difíceis a sofrer com o seu povo. Que sorte a nossa termos Cavaco. Não o ouvimos, nunca lhe damos o valor, e ele está sempre lá para nos provar que previu, adivinhou, sabia, estava certo. Cavaco nunca se engana e raramente tem dúvidas, já devíamos todos saber. Cavaco avisa-nos, como um bom amigo, tenta encaminhar-nos, mas, simplesmente, é bom demais para nós. Nenhum português merece Cavaco.

Isto tudo e um jornalista reles lembrou-se de lhe perguntar porque é que Cavaco não tinha abdicado, como a sua plebe, dos subsídios. Herege! Se achamos que Cavaco não está a dar o corpo ao manifesto, é porque não somos capazes de ver. De certeza que ele nos está a dar o exemplo de outra maneira, a sacrificar-se para prestar-nos outra lição, e nós, que não o merecemos, estamos outra vez a injustiçá-lo. E claro que estava: Cavaco só não abdicou dos subsídios para ter o que comer. Ao que este país ingrato chegou, a reclamar dos tostões que são dispensados à nossa grande inspiração nacional, a pôr em causa a única coisa que nunca pode ser posta em causa: Cavaco. E teve o vulto de nos explicar, com a aura de um santo pedinte, que, mesmo com os subsídios, o que recebe nem dá para as despesas. O mártir Cavaco não personifica apenas o desígnio nacional; chega ao cúmulo de passar fome por nossa causa.

Nada disto se paga, e, no entanto, quanto é a esmola de Cavaco? 10 500€ por mês. Pior do que uma humilhação. E ainda não ouvi nenhum apelo para que se aumentem os impostos amanhã, para que se defina que um dízimo do rendimento de cada português tem de ir para Belém: Cavaco precisa de comer, por Deus! Mais importante, precisa de carinho, reconhecimento, respeito! Que se acabe, de uma vez por todas, com o desprezo com que este país de ignóbeis trata os seus heróis nacionais.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A morte do Mega


Acho que qualquer pessoa consegue perceber as razões que motivaram o já famosíssimo SOPA (Stop Online Piracy Act): as companhias investem em filmes, discos, livros, séries, e querem, naturalmente, rentabilizar ao máximo esse investimento. Termos todos acesso a ele sem pagar nunca será propriamente pacífico.

O que todas as grandes empresas já deviam ter percebido é que esta é uma guerra, talvez a única guerra, que nunca vão poder ganhar. Vivemos a era da internet, do conhecimento, da partilha infinita de conteúdos. Tentar, hoje, aprovar uma lei que vá ferir a Wikipedia, o Youtube, o Blogger, os torrents, o MegaUpload é, pura e simplesmente, de uma ingenuidade grosseira. Esse barco já partiu há muito tempo; hoje, mesmo para os todo-poderosos, é adaptar ou morrer. Não há alternativa a não ser capitalizar a internet a seu favor, para ganharem mais do que, também não o esqueçamos, já têm ganho com ela nestes anos todos (proximidade, publicidade, disseminação, etc).

O SOPA foi para a gaveta, como se esperava que fosse. Simbolicamente, o FBI lá conseguiu fechar o Mega. Duvido que dê nalguma coisa; e se der, não restem dúvidas de que, por cada Mega que caia, dois se levantarão.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

"So we'll hunt him because he can take it."


Arrancada feliz de Ronaldo, finalmente, e pena que, para a moral, não tenha sobrado o empate, ainda que o destino fosse ser selado de qualquer das maneiras em Camp Nou, daqui a uma semana.

O Barça já foi ao Bernabéu três vezes este ano, esteve a perder em todas elas, mas deu sempre a volta. Só não ganhou a primeira mão da Supertaça. Mourinho mudou, mas não chegou, como era normal que não chegasse: no confronto directo, já o vimos quatro vezes este ano, não há Real para este Barça, muito menos a duas mãos. Não é bonito de reconhecer, e porá sempre Mourinho em causa mas, como disse depois do jogo para o campeonato, isto não deve ser visto como um fim em si mesmo: provavelmente o Real não ganhará jogo nenhum ao Barça este ano, mas, neste momento, também não precisaria de o fazer para ganhar a Liga. O Real pode ir à Catalunha ser enxovalhado duas vezes, e, ainda assim, cumprir o grande objectivo e acabar campeão espanhol.

É esse o grande teste da vida de Mourinho: ultrapassar todas as derrotas, suportar todos os banhos de futebol, sobreviver a toda a impaciência e a todo o desalento, mas manter a equipa concentrada o suficiente para fazer o campeonato perfeito. Porque só há uma forma de bater o Barça: é não precisar desses jogos para nada.


P.S. 1 - A abertura de Messi para o 1-2 valeria o bilhete.

P.S. 2 - A agressão de Pepe não tem desculpa. Mas antes de se voltar à via sacra de condenação do futebol violento do Real, que se ponha a mão na consciência, e se lembre a maneira como os jogadores do Barça continuam a cair.

"With endless love, we left you sleeping. Now we're sleeping with you. Don't wake up."


Enorme realização de Danny Boyle, enorme banda sonora, enorme ambiente. Mais um bom argumento, um bom Cillian Murphy e o Moody de sempre. 28 Dias Depois (2002) é provavelmente o melhor filme pós-apocalíptico que já vi.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Foram os Globos


Argumento para Woody Allen foi todo ele a vitória da noite! Numa cerimónia dominada pela concorrência, o seu 2º Globo era uma improbabilidade grande, e coloca-o em posição privilegiada para atacar o 3º Óscar de argumento da carreira. Allen já é o único homem a ter ganho Melhor Argumento Original por duas vezes; agora, está na dianteira para bater o seu próprio recorde. Ao nível da lenda viva que é.

Claire Danes viu a brilhante performance em Homeland reconhecida, e foi o outro motivo de vivas, bem secundada pelo segundo Globo de Peter Dinklage. E ficamos por aí, porque The Artist arrasou Midnight in Paris e Brendan Gleeson, por quem torcia severamente, e Clooney deixou Pitt outra vez a zeros, ainda que a química brutal de ambos tenha sido das coisas grandes da noite. Como se esperava, sem ver The Descendants, The Artist e Hugo, não se faz farinha. Estão no topo da watchlist, mais The Iron Lady, só para saber se Streep foi mesmo melhor que Viola Davis, e Tintin, que obviamente já devia ter sido consumido.

Em Série e Actor Drama, resultados agridoces: Homeland é, de facto, uma série sensacional, e não se discute que o venerável Kelsey Grammer mereça ganhar um Globo; mas reforço que a estreia da primeira não foi superior à afirmação de Boardwalk Empire, e que a inquietação insuportável de Damien Lewis (Homeland) merecia mesmo o Globo deste ano.

Gervais foi, como é sempre, tudo o que um anfitrião deve ser nestas coisas: inteligente, ácido, provocador, incontornável. Um espectáculo dentro do espectáculo, uma mais-valia absoluta. Pena não existirem mais do seu nível. Isso e que lhe tenham cortado tempo de antena este ano. Oxalá a Academia aprendesse qualquer coisa, tendo em conta que ainda considera Eddie Murphys deste mundo como primeira escolha para os Óscares. Vá lá que o universo encaminhou Billy Crystal para dar conta do recado.

Por fim, a vénia ao enorme Morgan Freeman: Seven, Million Dollar Baby e, acima de todos, The Shawshank Redemption, que teve direito à maior sequência do seu vídeo de homenagem. O prémio-carreira para um grande senhor, um dos primeiros que considerei meu actor favorito.

Foram os Globos, daqui a um mês há mais.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Globos, noite 69!


O que falta, como sempre, só vai ser visto a tempo dos Óscares, e faltam, sobretudo, três pesos pesados: The Descendants, The Artist e Hugo. Mas não se passam dias grandes sem estar a torcer, e por isso a minha lista de hoje é a que segue abaixo. Especialmente Woody, Gleeson, Boardwalk Empire, e a dupla Lewis-Danes, por Homeland. Mais Pitt, como sempre, que, mesmo sem ter sido do outro mundo, merece necessariamente que se torça por ele.

Com o rei Gervais como mestre de cerimónias, ser espectacular é uma inevitabilidade. Venha a grande noite.

Drama (vi 3/6): The Help
Actor Drama (2/5): Brad Pitt
Actriz Drama (1/5): Viola Davis

Comédia (2/5): Midnight in Paris
Actor Comédia (4/5): Brendan Gleeson

Animação (2/5): Cars 2

Secundário (3/5): Christopher Plummer
Secundária (2/5): Octavia Spencer

Realizador (2/5): Woody Allen
Argumento (3/5): Woody Allen

SÉRIE Drama (4/5): Boardwalk Empire
Actor Drama (4/5): Damien Lewis
Actriz Drama (2/4): Claire Danes
Secundário (3/5): Peter Dinklage
Secundária (3/5): Sofia Vergara

A Raínha do Cabo

Não há mais nada de tamanho nível. Poder passar a noite de Sábado com Araújo Pereira e Rebelo de Sousa, em Conversas Improváveis, e ainda com Pedro Marques Lopes e Daniel Oliveira, no Eixo do Mal, diz tudo.

sábado, 14 de janeiro de 2012

O melhor Marítimo de sempre


Ontem, Pedro Martins fez História: com o empate na Mata Real, o Marítimo selou nada mais nada menos do que a sua melhor primeira-volta de sempre. Nunca, em 31 anos de primeira divisão, tínhamos feito melhor média de pontos por jogo: 1.73, fruto de 26 pontos em apenas 15 jogos. Pelo caminho ficou o recorde de Nelo Vingada que, em 1999/2000, fizera 29 pontos... mas em 17 jogos (média de 1.71), no campeonato a 18 equipas.

Em Janeiro não se ganha nada, mas fala pelo nível do que se tem feito este ano. Excelente futebol, melhor marcador da Liga incluído, competitividade em todos os jogos (sporting e benfica já caíram), produtividade elevadíssima (meras três derrotas no campeonato, quartos-de-final na Taça, até Alvalade), e uma cultura ganhadora como, sinceramente, não me lembro de ter visto em todos estes anos. Mérito total, nunca me canso de dizer, do Pedro Martins, de quem derivam, directamente, todos os méritos de uma equipa que era suposto estar a lutar para não descer, e que afinal anda a bater recordes.

Em Janeiro não se ganha nada, mas não é todos os dias que se entra para a História.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

E se uma vez na vida acontecesse o milagre do presidente da Liga não ser o candidato dos três grandes?


Aconteceu ontem.

O desfecho foi autenticamente de fazer cair queixos. Não só porque a santíssima trindade benfica-porto-sporting cerrou fileiras à volta de um candidato, o que é sempre igual a vitória, como porque Pinto da Costa se envolveu pessoalmente nas eleições, enaltecendo o seu António Laranjo, e ridicularizando o então apelidado "candidato do Marítimo".

Pois, calhou de uma vez na vida acontecer o improvável no futebol português. Mário Figueiredo contou com o apoio de 18 dos 32 clubes profissionais, e ganhou absolutamente em toda a linha, Assembleia Geral e Comissão Disciplinar incluídas.

O mais curioso é Mário Figueiredo não ser só o "candidato do Marítimo". É também genro de Carlos Pereira, o presidente, e já foi advogado do clube em várias ocasiões. É um homem que chega ao topo desligado dos grandes, e, nepotismos à parte, mesmo que esta seja uma vitória muito relevante do clube e de Carlos Pereira em particular, que lançou e suportou a candidatura perante a descrença geral, a eleição de Mário Figueiredo é, sobretudo, uma grande notícia para todos os clubes médios e pequenos em Portugal.

No futebol português o normal é que "tudo mude, para que tudo possa ficar igual". Talvez não, desta vez. Os três grandes foram historicamente derrotados no mesmo dia, logo na eleição do líder dos campeonatos profissionais, e as propostas de divisão solidária das receitas, por exemplo, eram uma das bandeiras da candidatura. Os clubes médios e pequenos, porventura fartos do insuportável garrote financeiro, humano e desportivo que representa a influência dos grandes em Portugal, ousaram sair da asa deles, pensar pela sua cabeça e defender os seus interesses. Era o mais difícil. E ganharam. Quem sabe, ontem passará à história como o dia em que o futebol português deixou de ser uma oligarquia.

Coisas que merecem



"A Associação de Telespectadores considerou a série "O último a sair", da RTP, como o melhor programa de 2011. A distinção foi atribuída a «uma sátira inteligente aos 'reality shows' (...) uma ideia original, o que é raro nos canais portugueses", considerou a ATV."
via JN

"O Último a Sair" nunca gozou de reconhecimento da população em geral, nunca foi inteiramente compreendido, e perdeu em audiência, sem apelo nem agravo, para toda a concorrência. Esta distinção não muda nada em relação a isso. Celebra, no entanto, a singela homenagem de fazer notícia daquele que foi, sem sombra de dúvida, o programa de humor mais criativo que me lembro de ver na televisão portuguesa.

Vi-o muito menos do que ele merecia, e é por causa de desleixos como o meu que o entretenimento televisivo em Portugal é o que é. Devíamos todos tê-lo valorizado mais, visto mais na tv e menos no youtube, seguido mais, consumido mais, porque "O Último a Sair" foi o humor no seu alto nível, arrojado, provocante, negro e original. Tudo ali valia a pena, era fresco e delicioso, obra, em boa parte, do génio notável de Bruno Nogueira. Até o formato nunca ninguém tinha visto à frente. Escandalizou, foi desconsiderado, até mal-tratado. O seu legado, no entanto, como o prova o tempo, vai prevalecer.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Quase tudo sobre emigrar

"O que vale é que continua a haver quem acredite no meu trabalho. E eu continuo a acreditar que é possível fazer carreira a partir do Porto, de Bragança, de Viseu, de Beja, de Faro, do Funchal, de Ponta Delgada, de qualquer outro ponto do País, em qualquer profissão. Mais não seja pelo apego à terra, à vontade de ser português no local onde nasci, de saber que a soberania sobre qualquer território só se mantém enquanto houver quem aí resida e trabalhe. Este não é um discurso de direita ou de esquerda, é uma convicção de frente de combate contra a deserção, pela luta contra o despovoamento de cada uma das partes que corporizam o País fundado por Afonso Henriques."
Rui Neves, no Jornal de Negócios

O futebol para sempre

Acho que, no futebol e no resto, poucas coisas se comparam à beleza do regresso.

Ver Henry voltar a Londres aos 34 anos, saltar do banco, e, nos primeiros 10 minutos, apurar o Arsenal na Taça de Inglaterra, é qualquer coisa maior do que nós. No futebol, saber sair é muito crítico, e voltar longe do que se era é o mais normal do mundo. Mas olhamos para Henry e não ficamos surpreendidos. Se há gente capaz de insinuar a eternidade, Titi seria sempre um deles.

Só vai ficar no Arsenal dois meses. É quanto basta para a magia acontecer. E depois disto, mesmo se fosse embora hoje já tinha valido a pena.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O primeiro post de 2012 e o meu último Inverno no Porto.

Do que vou ter mais saudades é do ir e voltar. De estar no Porto quase a ir para casa, e de estar em casa quase a ir ser estudante outra vez. Those were the days.