domingo, 22 de janeiro de 2012

The Descendants


Acho que é daqueles filmes de que é inevitável gostar. The Descendants é um drama familiar, com a dor, a união e a tragicomédia típica de qualquer família, e conta a história de um pai que, no momento em que está a perder tudo, tem de fazer uma ponte com as suas duas filhas, e reaprender a sê-lo, em virtude do coma da mãe. A realização de Alexander Payne transmite-nos uma simbiose, às vezes deliciosa, com o espaço envolvente - o sedutor Hawai -, para o que também contribui a muito agradável banda sonora. Mas, não sendo o filme mais criativo do mundo, é o argumento adaptado, também de semi-autoria de Payne, o que torna uma história que já vimos muitas vezes num retrato com valor próprio e cheio de alma, que vai viver, acima de tudo, da grandeza das prestações individuais.

Clooney é brilhante, provavelmente num dos seus primeiros papéis sem pinga de sex-symbol. É o quarentão discreto que ficou sem rede, que já não pode ser o back-up parent, e a quem se exige que passe a ser bom o suficiente para criar duas raparigas. A impreparação natural, e os vários debates com que é confrontado pelos desenvolvimentos da história, desfazem-no em impotência. Clooney é o homem que está a perder tudo ao mesmo tempo, e que vai agarrar-se às suas certezas de sempre, às suas coisas de sempre, para não ser levado pela corrente. Uma performance despretensiosa e de um nível altíssimo, que vai, muito provavelmente, render-lhe o merecido Óscar.

Mas nem só de Clooney se fez o filme. Shailene Woodley é, obrigatoriamente, uma das revelações de ano. A belíssima californiana de 20 anos é um arraso completo, na pele da filha mais velha, mais problemática, e com as suas próprias razões. A ponte entre a revolta rebelde e a maturidade, fá-lo magistralmente, afirmando-se como um pilar impagável para o pai, e como a alma da casa. Além da profundidade interpretativa, tem uma presença incontornável. É a melhor secundária que vi este ano.

The Descendants tem quase tudo: uma história rica a nível humano, um belo trabalho de Alexander Payne na adaptação do argumento e na realização, e performances perfeitamente oscarizáveis de Clooney e Shailene Woodley. É muito bom... mas não é, de facto, o filme do ano. Mesmo que ganhe o Óscar, como já ganhou o Globo, não tem a produndidade de The Help e, pessoalmente, não bate o rasgo criativo de Midnight in Paris e The Tree of Life.

7/10

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