segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

CAN 2012: o primeiro jogo grande


O farto talento individual de Marrocos contra a imperturbável maturidade competitiva da Tunísia. No fim, ganharam mesmo os tunisinos, num jogo gerido no limite da perfeição, à italiana: abdicaram da bola, inauguraram de bola parada, e mataram o jogo no contra-ataque. Leitura brilhante de Trabelsi no banco, que preparou, primeiro, uma teia para o virtuosismo marroquino, e injectou, depois, a criatividade que lhe viria a garantir a vitória. A Tunísia não joga melhor, de facto, mas, mental e tacticamente, é uma selecção temível.

Marrocos terá necessariamente um dos melhores plantéis da competição. É uma selecção romântica, que dá gosto ver pela criatividade, o trato da bola e o rasgo ofensivo. Porém, ao contrário da sua génese norte-africana, é uma equipa cativante de mais e cerebral de menos: não consegue parar o jogo, ser rigorosa atrás, e desterra de mais à frente da baliza. Além disso, Eric Gerets prejudicou em vez de ajudar: para o ataque da última meia hora trocou o seu melhor jogador - Boussoufa - por mais um ponta-de-lança, e matou boa parte da clarividência da equipa.

No pressing final os marroquinos ainda podiam ter empatado, mas não chegou. A situação não é confortável, ainda por cima com o Gabão, a equipa da casa, no grupo, mas fica a certeza de que se Marrocos não seguir em frente, foi exclusivamente por culpa própria. Quanto à Tunísia, uma equipa composta em grande escala por jogadores do país, temos candidato: talvez falte algum talento, mas o estofo dos campeões está lá.

Marrocos - Boussoufa é classe pura. Nas costas do perdulário Chamakh, foi a luz da equipa durante todo o tempo em que esteve em campo, com a sua mistura de toque, drible curto e passes açucarados. A saída do médio do Anzhi foi o princípio do fim para Marrocos. O duplo pivot a meio-campo também esteve num nível muito alto: Kharja, o capitão, menos virtuoso e mais pragmático; Belhanda, 21 anos, revelação do Montpellier, mais perto de um box-to-box, e também de um absoluto requinte técnico. Na extrema-direita, uma nota ainda para Amrabat, importante a carrilhar jogo.

Tunísia - Numa selecção colectivista, quem mais brilhou foi o guardião Mathlouthi, do Étoile du Sahel, com 3 ou 4 defesas determinantes. O canhoto Dhadouadi, 24 anos, do Club Africain, foi a chama no ataque durante a maior parte do jogo, mas o verdadeiro espectáculo estava guardado no banco: o extremo Msakni (21 anos, Espérance Tunis) inventou a melhor jogada da competição até agora, e, magistralmente, acabou com o jogo.

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