segunda-feira, 29 de abril de 2013

Os dias em que o futebol português faz sentido


É como ter 9 anos outra vez, e voltar aos lugares sagrados da velhinha Primeira Divisão. Não era Bwin, nem ZON, nem Sagres; era simplesmente a Primeira Divisão, e foi um sítio perfeito para se aprender a gostar de futebol. Os estádios não eram novos e não tinham 30 mil cadeiras em todas as esquinas. Também não eram perdidos da cidade. Ficavam-lhes no coração, o mais perto que desse das pessoas. Era o tempo em que havia mais gente do que lugares. Ou, pelo menos, parecia. Era o tempo em que era tudo mais simples.

Ver 14 mil pessoas a encher o São Luís é comovente. Lembro-me logo do Paco Fortes. Do Candeias, do King, do Carlos Costa, do Hajry. E claro, do senhor Nader, Hassan Nader, da época em que os mais pequenos também tinham símbolos, e também os podiam eternizar. É como se tivesse as cadernetas da Panini abertas nas mãos, como se pudesse vê-los a todos outra vez. Ou ouvir deles, claro, nos Domingos às 4 intemporais da Antena 1, enquanto esperava, fiel, por um golo do meu Marítimo. É como estar à espera de ligar a televisão, e de ter acabado de começar o Domingo Desportivo. E voltar a ver a nobreza do Vidal Pinheiro, a alma da Póvoa, a relva encharcada do Adelino Ribeiro Novo, ou toda a gente a acotovelar-se no velhinho Mário Duarte.

O futebol português perdeu tantas coisas desde esse tempo, muitas delas para sempre. É uma boa notícia que tenha podido recuperar o Farense. Do fundo mais fundo, até ao regresso que parecia nunca poder chegar, e 14 mil pessoas disseram presente. Oscar Wilde escreveu que viver é a coisa mais rara do mundo; a maioria das pessoas apenas existe. É o mesmo com os clubes. Não compensa toda a brutalidade do que se perdeu, mas acredito que quem esteve ontem no São Luís, tenha pensado que, se calhar, valeu a pena morrer, para poder voltar a viver assim. Como eu gostava de voltar a sentir esses Barreiros na pele.

O verdadeiro drama do futebol português é esse, é apenas existir. Há dias, porém, como ontem, em que ainda faz sentido. Um bem haja ao grande Farense, e toda a sorte do mundo. Só os maiores é que fazem falta.

2 comentários:

Leão do Almirante disse...

Mais um grande texto, como já é habitual. Realmente é um regresso que envolve grande nostalgia, sobretudo junto dos adeptos dos clubes pequenos e médios.
P.S.: Pedia apenas um texto sobre "Os dias em que o futebol português (não) faz sentido", em relação ao que assistimos esta noite nas bancadas do nosso Caldeirão.

Anónimo disse...

Gosto muito dos teus textos,mas este ainda mais,sendo eu Farense por dentro e por fora.E sim,quando o árbitro apitou para o final,tive vontade de chorar.

Nuno