quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Drinking Buddies. Uma jóia fora do radar


É uma pérola no universo das comédias românticas, daquelas que só encontramos uma ou duas vezes a cada ano. Drinking Buddies é um retrato de alto quilate das inevitáveis zonas cinzentas de todas as relações, que fala do fruto proibido sem moralismos bacocos, com uma noção e uma maturidade que o tornam especial.

O filme centra-se na história de Luke (Jake Johnson) e Kate (Olivia Wilde), dois colegas de trabalho de extrema cumplicidade, e segue a forma como estes se aproximam perigosamente, enquanto as suas respectivas relações pessoais influem, omnipresentes. O trabalho de Joe Swanberg, que escreveu e realizou, é brilhante. Drinking Buddies plasma leitura, avaliação e sensibilidade, é excepcional nos silêncios e nos pormenores, nos toques e nas quebras de diálogo, terrivelmente realista na forma como ilustra o limbo entre amizade e romance, entre flirts e relações e, muito especialmente, fidedigno nas pequenas coisas que se fazem, que se vêem e que se sentem, mas que não se podem dizer. É um filme sobre química, com posse e ciúme, averso a mares de rosas e a falsos moralismos. Capta a essência da corte e do envolvimento entre duas pessoas com uma maturidade ímpar, sem tiradas sonantes, mas com reacções que falam muito mais do que elas, com dúvidas, mágoa e desejo, e muita coisa dita a medo, subentendida ou deixada por dizer, exactamente como na vida real.

O filme não tem propriamente um clímax ou um grande desenlace, mas se não ter uma estrutura rígida pode ser visto, por alguns, como uma fragilidade, acho que parte da sua chave está exactamente no facto deste ser uma colectânea de episódios que valem por si próprios, um retrato fidedigno das coisas como elas são, sem princípio-meio-fim, das coisas que não têm de "acontecer" para ser. A realização de Swanberg, por sua vez, ainda consegue engrandecer todo o produto. Tem delicadeza, movimento, cor, óptimos planos interiores e de pormenor, e uma grandíssima intimidade, porque perde todo o tempo necessário com as pessoas, com os seus jeitos e com os seus silêncios, e isso é basilar para o óptimo resultado final (completado por uma bela banda sonora).

O realizador é conhecido por pedir ao seu cast que improvise a tempo inteiro e o resultado não podia ter sido melhor. Neste registo, o grande Jake Johnson, o Nick Miller de New Girl, é um peixe na água. É o tipo engraçado, carismático e crianção que enche qualquer sala e de quem é impossível não gostar, e, extrapolado pela liberdade de diálogo, consegue criar uma simbiose incrível com Olivia Wilde, de uma naturalidade irresistível, difícil de criar em laboratório. A forma como a sua aura de todas as horas é, depois, perpassada por uma nuvem surda de ira e acidez, que ele não consegue remediar, é magnífica. Wilde abandona a capa de sex-symbol e surge, aqui, como a miúda normal em que a personalidade é que é profundamente sedutora, o que lhe rende, também, uma performance excelente. É vulnerável e é forçada a viver sempre numa fronteira, mas nunca deixa de ser concreta, e a sua última chamada à realidade é ouro cru em forma de cena. Anna Kendrick e Ron Livingston, finalmente, completam um elenco que funcionou realmente bem, fruto da fusão perfeita das suas características: ambos mais "velhos" na maneira de ser, ela absolutamente doce, ainda que ingénua, ele pragmático, terra-a-terra, sempre certo do que quer.

Como já disse, admito que nem toda a gente adore a narrativa flexível do filme mas, mesmo que aparentemente fora dos radares, Drinking Buddies é um dos imperdíveis do ano. Oxalá os Globos não o deixem passar em claro.

8/10

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