segunda-feira, 14 de outubro de 2013

World War Z. Faltou identidade ao potencial


Com o livro homónimo, Max Brooks tornou-se, em 2006, num renomado best-seller e num dos mais admirados autores pós-apocalípticos do mercado. Apelidado de inadaptável ao cinema, World War Z foi mesmo considerado um reinventor do género. Numa época de profunda reminiscência da ficção zombie, o filme de Marc Forster, cuja produção atravessou um sem-número de percalços, reuniu, por isso, uma expectativa grande, mesmo que mais ou menos diluída pelo caminho, nesses contratempos. WWZ é, de facto, um filme capaz, com uma história que tem o mérito de não se limitar a ser vulgar, mesmo que acabe por revelar-se deficitário e fique longe de fazer escola como a sua obra-mãe.

O americano Matthew Michael Carnahan (autor de The Kingdom ou do excelente State of Play) assinou a adaptação do argumento, num processo verdadeiramente traumático, que implicou mais de um ano de atraso, a reescrita completa da primeira adaptação e uma terceira reinvenção do último acto, já escrita por Damon Lindelof e Drew Goddard, mítica dupla de Lost. No caminho, WWZ passou a ser um filme de acção no presente, abandonando parte substancial da premissa do livro, ao ponto do criador Max Brooks ter dito que este deixara de ter qualquer ligação à sua obra, à parte o título. O livro é uma colecção de relatos individuais elaborada dez anos depois da guerra desesperada contra a praga zombie, onde o narrador é um antigo quadro das Nações Unidas; Carnahan tornou-o, por sua vez, na jornada desse agente pelo mundo a partir da explosão do contágio, para tentar identificar a génese da epidemia e conceber uma forma de a conter, enquanto tem, ele próprio, de manter a família a salvo.

O filme é cativante durante boa parte do tempo. Fazer uma investigação à volta do mundo, em pleno pós-apocalipse, funciona porque mais ninguém o fez. Da Coreia do Sul a Israel e a Gales, acumula boa fotografia e é um filme puro, no sentido em que enaltece o carácter "científico" da epidemia por si, o efeito de ir investigar para resolver, e foge ao usual estado de sítio entre humanos. Mesmo assim, o filme falha na temporização. Não é corajoso o suficiente para fazer poucas coisas e perder mais tempo com elas, para deixar pontas soltas ou para fazer sacrifícios, tentando, ao invés, condensar toda uma temporada feliz de Walking Dead em 2 horas, o que o torna superficial e difícil de levar a sério. O desfecho, depois, o tal que foi reescrito três vezes, é manifestamente infeliz. A sequela está omnipresente, mas isso não justifica tão grosseira falta de suspense. O suposto zénite do filme acaba por não ser mais do que um piloto automático absolutamente sem sal.

Marc Forster - que dirigiu, por exemplo, o pior 007 de Craig - não faz uma grande realização. Ao tratamento das cenas de zombies em massa faltou classe e sobrou mau gosto. Faltou tensão e individualidade aos momentos de nervos e o filme não chegou a estar perto de convencer nesse campo. Faltou perder mais tempo nas cenas, ser menos ambicioso e ter mais tacto. Em geral, a verdade é que WWZ padece sempre de uma clara falta de alma. Brad Pitt devia ter estado melhor. Tem duas horas de palco para brilhar a solo e nunca chega aos níveis exibicionais que o celebrizaram. Pareceu, também ele, contagiado pelo défice de profundidade do filme e incapaz de ser mais convincente. À excelente Mireille Enos não deram qualquer espaço. A boa surpresa veio de Daniella Kertesz, israelita de 24 anos em estreia a este nível, que, apesar de ser uma secundária com importância nula para a trama, acaba por emergir, mercê da intensidade perturbante que emprestou ao papel.

World War Z não deixa de ser um filme competente no género, com potencial nas ideias próprias, bons ambientes e boas influências, que se vê com disposição. A crítica que fica é construtiva no sentido de que parece existir um potencial subjacente que, claramente, não foi capitalizado desta vez. O filme não foi capaz de achar a sua identidade, de se particularizar e de ter uma pincelada de génio quando chegou a hora. Quem sabe a sequela ainda é capaz de se reencontrar.

6.5/10

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