segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Elysium. Blomkamp perdeu-se no caminho


Há quatro anos atrás, um até então desconhecido Neill Blomkamp estreou-se no grande ecrã, a escrever e realizar uma obra tão marcante que o fez, de chofre, chegar a nada menos do que aos Óscares, nomeado, sem discussão, para Melhor Filme e Melhor Argumento: District 9 foi um daqueles de que se faz carreira, ficção científica do tipo em que a acção é secundária perante o texto, o contexto e as performances. Blomkamp foi encarado como um quase reinventor do género e a sua nova oportunidade para provar o toque de Midas foi razoavelmente antecipada. Elysium não é, porém, um filme da casta do seu antecessor.

Lembro-me de pensar em como era brilhante a ironia de District 9, o facto do filme ser tão capaz e intenso a nível visual, mas dos seus trunfos terem sido, no fim de contas, as ideias, a subtileza, a classe de propósito com que foi feito. O sci-fi era só um acessório, um embrulho para contar a verdadeira história, e isso é que o tornou tão bom como os melhores. Elysium padece, pelo contrário, de uma certa ilusão de grandeza. Como quando o poder sobe à cabeça, o que pareceu é que Blomkamp pôde usufruir de recursos que antes não estavam ao seu dispor e, com isso, perdeu rumo e identidade. Curiosamente, apesar dos luxos visuais, patentes, em particular, na estação espacial, o filme não é particularmente rico a esse nível. Chega, até, a ser um bocadinho grosseiro, prejudicado, também, por uma edição verdadeiramente lamentável, martelada a todas as horas e que o articula com a delicadeza de quem monta blocos. Elysium não é agradável de seguir e, em vez de ter um fio, de ter previsibilidade, surpresa e clímax, tem um amontoado grande e bruto de episódios rápidos, destrutivos e superficiais.

É pena porque, se a nível da acção propriamente dita, o texto de Blomkamp é incompetente, a nível das premissas da história, não é (excepção feita ao romance, que é outro tiro ao lado). A história do miúdo orfão deixado para morrer, mas que tinha alma para vir a fazer grandes coisas, tem apelo, e todos os repetidos enquadramentos com o passado são francamente bons. Isto nota-se, especialmente, na última sequência do filme, que rende um fim digno e o faz subir alguns pontos. Mesmo que, desta vez, toldado pelo resto, Blomkamp mantém o talento para filmar emotividade no género e a sua aplicação de cenas surdas e utilização da boa banda sonora é dos maiores talentos do filme. Igualmente, o seu mundo pós-apocalíptico, sujo e destruído, é bem mais cativante do que o Elysium, ou seja, a nave espacial para onde a população mundial rica se começou a mudar, assim que os recursos terrestres se tornaram decadentes.

Matt Damon, ainda que com altos e baixos, é um bom lead, que valoriza o filme. O tipo conformado e institucionalizado, cujo destino vai encaminhar, ainda que por linhas tortas, para a epopeia que lhe estava escrita, a sua gastura, a sua impessoalidade triste, o pragmatismo, primeiro, e o heroísmo, depois, valem a escolha. Diria mesmo que o que teve de fraco foi culpa da acção bruta e não da caracterização ou da sua performance. Foi, porém, a excepção, num cast em profundo subrendimento (Jodie Foster no pior), e que tinha gente da estirpe de Sharlto Copley ou Wagner Moura.

O que fica de Elysium são os sinais de que Blomkamp não desaprendeu e de que continuam a haver ali ideias para cinema de outro quilate. Este foi só um rascunho.

6/10

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