sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O Império contra-ataca


Todo o organismo moribundo estrebucha antes de morrer. Todo o parasita atacado agride de volta, antes de ser incinerado. Esta foi, pois, a semana em que as forças inquisidoras do Santo Ofício começaram o seu ajuste de contas. Na segunda-feira, as Câmaras finalmente libertadas do jugo laranja abriram os seus portões para queimar o bolor e, desde aí, a caça aos infiéis não mais parou.

À vista do público, já houve garotice: o Governo Regional retirou à Câmara do Funchal a gestão de um dos maiores jardins da cidade, coisa apelidada pelo próprio ex-presidente, Albuquerque, de "absurdo"; os vereadores sociais-democratas, por sua vez, também já sancionaram que Cafôfo, que não tem maioria, não poderá contar com qualquer cedência, nem sequer a do bom senso. Já houve, igualmente, idiotice: na esventrada Câmara de Santa Cruz, o tribunal exigiu que se aumentem taxas para pagar dívidas... coisa ecoada nesse escarro de papel que é o Jornal da Madeira como um "escândalo" e uma traição de promessas eleitorais.

O mais grave, porém, não está aos olhos de todos: acumulam-se os casos de elementos da maior Oposição de sempre a serem purgados em todas as áreas, desde o afastamento de cargos na Função Pública até à cessão de contratos com o Governo Regional. O Império abriu oficialmente a sua caça às bruxas. Cambaleante, solta os leões uma última vez, na ilusão pútrida de que se pode recompor pelo castigo, pela coacção e pela guerrilha doente a todas as alternativas, na expectativa de torná-las ingovernáveis. O esvaziamento costuma ser proporcional à demência, portanto, o que devemos esperar a seguir? Raptos, à boa maneira de Pinochet, ou gulags, como os camaradas soviéticos?

Esta febre a anteceder o exorcismo é o legado final de Jardim. Derrotado, humilhado nos seus bastiões, este PSD vai tentar resistir como um verme e vai morrer como um. Vai continuar a investir tudo na sua lavandaria cerebral e vai continuar a mover-se na calada, a mandar recados, a aconselhar silêncios, a intimidar as pessoas e a lembrar que é o Grande Irmão que tudo vê... mas só até ao dia em que, com data marcada, lhe vão arrancar os olhos. É que, mesmo que sejam incapazes de aceitá-lo, a tirania plenipotenciária, para ser vivida em regime marcial, já ficou lá atrás. É verdade que, enquanto o Império respirar, todos são vulneráveis, todos podem ser as vítimas. A diferença é que as pessoas sabem que já não estão sozinhas. A diferença é que já não estão autorizadas a ter medo.

O Império está ligado às máquinas e, da próxima vez, qualquer madeirense sabe que a eutanásia mora, única e exclusivamente, nas suas próprias mãos. Isto vai acabar porque já não pode haver gente com estômago e pobreza de carácter suficientes para se continuar a associar-lhe. Os que hesitarem quando, na última batalha, o partido fingir que mudam as caras e apelar à velha Madeira dos brandos costumes, lembrem-se que votar PSD, seja em que nome for, é sempre votar este estado de sítio. E façam a coisa certa, se não por convicção ou por vergonha na cara, pelo menos, porque os vossos filhos merecem melhor.

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