terça-feira, 15 de outubro de 2013

Now You See Me. A magia só enganou até onde pôde


2006 terá sido um ano que converteu muito bom cinéfilo à magia. Eu, pelo menos, fiquei fã: The Illusionist foi pejado de qualidade e The Prestige conseguiu, simplesmente, ser um dos meus melhores de sempre. A magia dava, afinal, para autênticas avenidas de coisas bem reais e essa dualidade sedutora vinha para ficar, mesmo que nos anos subsequentes não fosse voltar a ser alimentada. Now You See Me foi a primeira oportunidade para voltar ao género, desde aí. Como um truque mau, contudo, se é verdade que até nos engana durante boa parte do tempo e insinua ser bem maior do que é, o desfecho é tão raso que faz com que todo o filme desabe com ele.

Now You See Me conta a história de quatro talentosos mágicos de pequena monta que, num dado momento, são convocados por alguém que desconhecem para um endereço misterioso, onde lhes é apresentado um ambicioso plano de carreira. Um ano depois, eles são os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, um glorificado quarteto de magia que, no píncaro da sua digressão por Las Vegas, vai começar, aparentemente, a concretizar assaltos a bancos, no decurso do seus espectáculos. O filme tem bons traços de argumento, sobretudo na forma reverente como trata a magia, a sua história, os seus princípios e a arte em si. É forte a nível dessa recriação de contexto, interessante nos seus sucessivos truques e tem bons diálogos e boa interacção entre as personagens, sendo colmatado por um realização capaz de Louis Leterrier (Transporter ou Hulk). Numa avaliação global, contudo, a verdade é que deixa uma infinidade de questões por esclarecer, mercê de uma negligência quase total à sua própria sustentação. O filme vai acumulando camadas sem nunca responder a perguntas e é quando chega a hora de o fazer, no último acto... que se dá o seu espectacular falhanço. A parte "mística" é má e o mistério revelado é de thriller de 5ª categoria, colado a cuspo sem sentido e sem uma gota de génio.

Ao contrário do que se poderia supor, o cast (5 nomeados ao Óscar, 2 vencedores!) responde bem e merecia melhor. Jesse Eisenberg, acima de todos, é excelente, e continua a sua travessia no deserto à procura de um grande filme que finalmente lhe faça jus. A arrogância, a sagacidade e o seu ritmo paranóico já são uma imagem de marca e continuam a projectar as suas personagens. Woody Harrelson é o outro destaque, num registo de veterano de outros tempos, provocante e gozão, mas incisivo e carismático. No seu infindável rol de secundários, Morgan Freeman encontrou igualmente aqui um dos que melhor lhe assentou nos últimos anos. Já Mark Ruffalo e Sir Michael Caine estiveram na mó de baixo, parecendo sempre pouco confortáveis nos respectivos papéis.

Em dado momento, Now You See Me foi o tipo de truque com predicados e charme suficientes para querermos realmente acreditar nele. No fim, porém, o seu gigantesco nada capou pela raiz o que de bom houve no resto.

5/10

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