sexta-feira, 9 de maio de 2014

Blackfish. Porque o cinema também é activismo


"I think that, in 50 years, we'll look back and go: oh my god, what a barbaric time"

Foi veiculado como um dos documentários mais impactantes do ano, mas acabou por falhar os Óscares, coleccionando apenas a nomeação aos BAFTA. A verdade é que Blackfish é, efectivamente, um trabalho poderoso, completo e tocante, com o dom de educar e conquistar-nos ao mesmo tempo. O documentário versa sobre a delicadíssima questão do cativeiro das baleias assassinas, para fins de espectáculo, partindo de um incidente em 2010 num SeaWorld, a maior cadeia de parques aquáticos do mundo, no qual uma orca mata uma das treinadoras mais experientes da casa. Este veio a despoletar uma exaustiva batalha jurídica nos tribunais americanos, ainda em curso, com o fim de atacar e transformar a legislação vigente. O trabalho guia-nos numa perspectiva histórica, remontando à década de 70, e às origens dos processos de caça dos grandiosos mamíferos, percorrendo depois, à lupa, o mascarado histórico de tragédias no ramo, numa perspectiva a todos os níveis perturbadora.

Com uma investigação de fundo, frutífera em filmagens em bruto, artigos de jornal e actas judiciais, sustentada por múltiplos depoimentos, quer de testemunhas anónimas, quer de antigos treinadores reconvertidos a activistas, Blackfish expõe-nos as entranhas dantescas de um monstro-negócio de milhões e milhões de dólares, feito no branqueamento consciente de uma insuportável exploração animal e do perigo brutal que é fundir, na mesma piscina, seres humanos e esses gigantescos predadores fora de habitat, agrilhoados num cenário castrador e psicologicamente traumatizados, postos em situações-limite que, de facto, só os podem tornar em bombas-relógio. A transformação de mentalidades dos antigos tratadores, à medida que foram expostos às cruezas quotidianas e à compleição do negócio, carrega-nos consigo, e as suas descrições dos efeitos colaterais em animais tão vastamente inteligentes acaba por realmente dar-nos um nó na garganta.

Dirigido e co-escrito por Gabriela Cowperthwaite, Blackfish é, no fim de contas, um objecto de sensibilização para todas as pessoas que já entraram ou que gostavam de entrar num parque aquático, e a consciencialização de que o cativeiro não tem meios termos poéticos e é necessariamente sinónimo de barbárie.

7.5/10

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