terça-feira, 6 de maio de 2014

Lone Survivor. Mais uma incursão no herói americano


Lone Survivor é um filme superior ao nível de um elemento em especial: a realização. De facto, pouco mais se poderia pedir ao trabalho de Peter Berg, ele que anteriormente já explorara o registo em The Kingdom (2007). A história verídica de uma missão falhada dos SEAL nas montanhas do Afeganistão é arrebatada com um realismo digno de registo, espectacular mas de uma forma crua, abusivo da tensão em cenários apertados e muito cirúrgico. Não é um filme "em grande", isto é, não vive de efeitos especiais, nem de grandes milícias, nem de cargas épicas, sendo, ao invés, um retrato ocular, pessoal e, por isso, crível, a respeito do carácter da jornada de quatro homens deixados à própria sorte, com a ira do mundo no seu encalço. Não investindo em exageros, é um filme passível, todavia, de impressionar e, quanto a isso, destaco as excepcionais sequências dos personagens a despenharem-se, em carne e osso, por desfiladeiros inteiros. São daquelas que marcam.

Diria, contudo, que os méritos do filme se esgotam nesse competente jogo da câmara. Não que seja pouco - e são tantos os filmes de acção, até com premissas melhores, que não têm essa qualidade de leitura, por défice ou excesso -, mas também não é suficiente para o colocar no patamar em que o chegaram a aventar na época dos prémios. Saber que a história é verídica nunca deixa ninguém indiferente e é inevitável que isso injecte, por si só, mais crédito ao produto final. Há, porém, que saber distinguir o que é a qualidade da história pela sua raiz, do que é a qualidade do texto, ou seja, da capacidade do argumento em modelá-la para ser cinema. Neste caso, se Peter Berg merece muitos pontos pela direcção, perde outros tantos no guião. Lone Survivor é um filme perfeitamente vazio, sem qualquer densidade dramática. Tem má caracterização, maus diálogos, não tem carisma e não tem nada que, no fim de contas, dê coesão emocional aos préstimos visuais da história. É tudo demasiado ligeiro e, pior do que isso, reduz-se ao lirismo do ideal heróico americano, o que o torna oco, menos sofrido e, consequentemente, menos sério.

O cast também não colaborou. Simpatizo bastante com Mark Wahlberg, com a sua personalidade, história de vida e com os seus projectos de produção, mas não posso fazer nada em relação às suas limitações interpretativas. Quando lhe pedem para fazer drama, então, é penoso. Num registo mais flexível, como em 2 Guns, também no ano passado, as coisas até lhe saem bem; de contrário, Wahlberg é só uma rocha que não passa nada, tanto pior se torturado pelo peso de ser protagonista. No mais, sem nenhum grande actor a bordo, e antecipando-se os tempos de antena para a martirização, o filme já estava, de certo modo, ceifado à partida. Só merece algum reconhecimento Ben Foster, que era o mais capaz do lote e foi mesmo o melhor.

Lone Survivor é generosamente tenso, com uma temática fácil e bastante bem filmado. No resto, é só raso.

6.5/10

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