quarta-feira, 24 de março de 2010

Tempos da História

"Custa-me a crer que alguns dos meus contemporâneos estejam dispostos a embarcar na veleidade de comparar Messi a Maradona. Bem dizia Foucault quando perorava sobre o vício de cada tempo para se achar no epílogo da história.

(...)
Não consigo conceber a comparação entre Messi, para quem ser genial tem piada e é divertido, e Maradona, um praticante do abismo existencialista, alguém que instrumentalizou o génio para fugir ao pavor cénico de não conseguir vencer tudo sozinho.

Até ver, o génio de Messi consiste em criar a ilusão de que actua numa equipa de jogadores triviais (quando na verdade sempre viveu luxuosamente rodeado de Xavis, Iniestas, Henrys, Ronaldinhos, Ibrahimovics).
Já o génio de Maradona produz uma alucinação bem mais radical: cria a ilusão de que um só jogador pode levar uma equipa (realmente) trivial a qualquer vitória (quando, na verdade, todos sabemos que isso só é possível quando esse jogador se chama Maradona – Nápoles, México 86 e Itália 90 – se o árbitro não tivesse inventado aquele penalty). Como diziam os antigos, o passado (aquele em que Maradona viveu) é um campeonato diferente."

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