Cada vez mais, nos últimos tempos, dava-me para olhar para o Sérgio Paulinho de lado, com um certo despeito. Medalha de Prata em Atenas, e desde cedo na alta roda, até sob a asa dum monstro como Armstrong, os últimos anos não fizeram muito por ele. Com equipas suspensas por escândalos de doping que lhe eram alheios, e, em competição, com responsabilidades de trabalho permanentes para com os seus líderes, sempre candidatos à vitória final, o que me custava não era que ele não andasse a ganhar coisas ou a lutar pelo top 10, era vê-lo, vez sobre vez, a ficar para trás na montanha, sempre numa espécie de poupança para etapas que nunca chegavam. Mesmo neste Tour, nunca o tínhamos visto de peito ao vento na montanha, nem sequer a espreitar nas etapas médias, em que ele, ao estilo das Clássicas, tem, por natureza, potencial para brilhar.
Hoje, confesso que não pude acompanhar o fim da etapa em directo (já vi a repetição, com o desconcertante nó na garganta de Paulo Martins, na Eurosport), mas fiquei imensamente orgulhoso. Imensamente. Porque o vi, aos 13 anos, ao fim de 4 horas em directo, arrancar do nada uma Medalha de Prata nuns Jogos Olímpicos, e porque, mesmo com a lenda do Agostinho e as campanhas de sacrifício do José Azevedo à parte, nunca tinha visto (e não imaginava ver tão cedo) um português a ganhar no Tour. A última vitória tinha sido em 1989, há uns incríveis 21 anos. É verdade que é uma etapa solta, que o Sérgio continua perdido na Geral, e que tudo isto pode parecer redutor, mas este é um resultado que não pode ser menosprezado. Quem conhece a dimensão do Tour, percebe o que isto foi, e como isto orgulha o ciclismo e o desporto portugueses. Aos 30 anos, oxalá ele ainda vá a tempo de fazer mais 2 ou 3 anos destas coisas.
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