quarta-feira, 7 de julho de 2010

Foi Assim Que Aconteceu #23 - MEIAS

Espanha - Alemanha, 1-0

Vendo agora, era um contra-senso esta Alemanha ser Campeã do Mundo. Porque foi a melhor equipa, a que teve melhores individualidades, a que, indiscutivelmente, mais e melhor jogou, a que mais marcou e a que arrancou os jogos mais memoráveis deste Campeonato do Mundo. Esta Alemanha era muito dada ao jogo, e, percebeu-se hoje, muito pura para ganhar o que quer que fosse. Quem ganha não pode ter tanto espírito, e tanta fidelidade para com o jogo e para com o espectáculo. Foram assim a Hungria em 54, a Holanda em 74 ou o Brasil em 82. Como esses, mesmo que só acabe em 3º ou 4º, é a Alemanha a selecção de quem todos se vão lembrar depois da África do Sul. Estará aí a beleza do jogo.

Essa Alemanha do bom futebol já não esteve hoje em campo. Sem Muller, que provou, ausente, que era o jogador mais determinante e mais insubstituível da equipa, e contra uma selecção tão violenta tacticamente como a espanhola, não houve nada a fazer. Podia falar duma primeira parte equilibrada ou dalguma reactividade alemã, materializada em 2 ou 3 oportunidades, mas não faria sentido. A verdadeira Alemanha não esteve em jogo hoje, e, sejamos justos, mais por mérito espanhol do que por demérito próprio. A Espanha fez o seu melhor jogo até agora e, pela sobriedade na abordagem e pela maneira como resolveu, parecia que os papéis históricos estavam trocados, dum lado futebol mais alegre a ir embora, do outro o cinismo a seguir em frente. A Espanha, pese a extrema segurança de si (confirmou-se hoje, de vez, uma nova era no futebol espanhol), além de ter sido sempre a melhor equipa, também foi a que melhor jogou. Na retina os primeiros 25 minutos da 2ª parte, dum futebol enorme, ao nível de 2008, coroados legitimamente com o golo de Puyol.

Para o fim-de-semana, a Mannschaft merece o pódio. A Espanha é favorita na final.

Jogadores:
Espanha - No jogo mais denso e exigente até agora, Iniesta. O hiato na 2ª metade da época fê-lo chegar fresco à África do Sul, e ainda por cima foi em crescendo. Instrumental hoje, foi sempre irrepreensível a pegar no jogo, e foi a base do tiki taka. Xavi tem andado mais discreto, mas hoje apareceu muito bem no último toque, ligeiro. Também a defesa espanhola merece menção, com destaque para Capdevilla e Puyol que, na fase de bombeamento alemão, foi muito importante (é no futebol mais intenso que Puyol se sente melhor).

Alemanha - Num jogo para defender, Neuer assinou, para mim, a prova de que é o melhor guarda-redes do Mundial. Altivo, sem espalhafato e sem jogar para a fotografia, é jogador duma segurança a toda a prova, muito bom na ocupação na baliza. Boateng, adaptado à esquerda, fez uma excelente primeira-parte, poderosíssimo que é. E, no jogo em que faltaram Ozil e Podolski, esteve até à última Schweinsteiger, um comboio, que, depois do que fez no Bayern e na África do Sul, merecia sair para as grandes ligas.

Sem comentários: