domingo, 25 de julho de 2010

Nolan, sempre o maior de todos


Inception é um filme difícil de abordar por muitas razões. Desde logo porque é de Christopher Nolan, e porque se criou uma expectativa imensa à sua volta, ou não tivesse Nolan deslumbrado com todos os seus 5 filmes, e não fosse o último uma obra-prima chamada The Dark Knight. Mas será difícil de abordar, sobretudo, pela incrível densidade do argumento, não necessariamente ao nível da emotividade ou da reflexão moral, mas da própria acção. Inception é um filme sobre a realidade e sobre a percepção que temos dela, com a diferença de que Nolan ignorou quaisquer ângulos ao nível da loucura ou das psicopatias, para o elevar a um pico de ficção científica, numa recriação portentosa do que alguma vez se entendeu por lavagem cerebral, ao que ainda juntou a manipulação de sonhos e os truqes do nosso inconsciente, a desorientação mental pura, e as questões sobre a própria noção da realidade. O filme é totalmente poderoso, absolutamente cativante ao espectador, e tem a capacidade de se passear sempre como que um passo à nossa frente, insinuante, como se fosse impossível acompanhá-lo. Isto é arte, e Nolan, que não só realizou, como, principalmente, escreveu sozinho todo o filme, já nem precisava deste monstro para se afirmar como o melhor criador de cinema da actualidade.

Mesmo assim, e mesmo sendo um sacrilégio querer criticar coisas deste nível, não posso deixar de dizer que estava à espera de algo mais. O filme é fantástico, sublinhe-se, mas a Nolan temos de exigir sempre um pouco mais do que isso. Não digo que faltem morais de fundo, ou quaisquer coisas francamente reflexivas, porque Nolan é muito mais de criatividade do que de morais, mas a sensação que ficou foi que, a dada altura, o próprio Nolan acabou por se perder no hermetismo do filme, e não o conseguiu depois fechar com a maestria de sempre. O fim não é desadequado, fraco, e nem sequer assenta mal, mas é previsível, sobretudo um tanto ou quanto fácil, e isso tem pouco a ver com Chris Nolan.

Ao nível das interpretações, e ao contrário do que seria de esperar, Di Caprio não conseguiu ter o poder de ecrã dos últimos tempos. Mesmo com as especificidades do personagem, acabou por ficar estranhamente distante do ícone que cada vez mais tinha habituado a ser, num papel perturbado, escuro, e pouco intenso. Sem ninguém brilhar muito alto, merecem a nota Gordon-Levitt e Tom Hardy, bons secundários. Marion Cotillard, sem tirar o fôlego, assentou bem ao papel. Ellen Page não é para estas coisas.

Inception será, por certo, o argumento com mais potencial do ano, e definitivamente o mais criativo. Mas faltou maior emotividade à acção, maior propósito para o crime em que tudo aquilo assenta, e, sobretudo, um acabamento de outro campeonato, no fundo, o campeonato de Chris Nolan. E não, ao contrário do que pelo menos o imdb parece fazer crer, este não é, claramente, o melhor filme do génio londrino.

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