sábado, 3 de julho de 2010

Foi Assim Que Aconteceu #21

Alemanha - Argentina, 4-0

Se dúvidas houvesse, a Mannschaft é a melhor Selecção do Mundial. Vinga não pela consistência brasileira, não pelo cinismo holandês, não pela teia espanhola, nem pela paixão ofensiva argentina. Ganha porque é, a milhas talvez, a selecção mais incrivelmente completa, porque joga, a milhas, o melhor futebol do Campeonato, e porque faz isso conjugando tudo, da defesa à táctica e aos equilíbrios. Esta Alemanha ressuscitada por Klinsmann em 2006, na altura com Low como adjunto, e que esteve na final em 2008, é um projecto de futebol fantástico, com uma maturidade quase inalcançável ao nível do futebol de selecções. A Mannschaft tem a segurança dos grandes e a alegria dos mais pequenos, e nunca contemporiza, nunca pára, nunca circula: a regra é sempre o ataque, abrangente, rápido, assassino.

Para Maradona e para a Alviceleste, acabou o sonho. Podia ter sido, mas ter Maradona no banco não foi suficiente para repetir 86, nem chegar às meias a que os argentinos não chegam desde 90. A realidade crua e dura diz que, ao primeiro adversário verdadeiramente duro, a Alviceleste caíu, e caíu sem apelo nem agravo, sem nunca ter sequer chegado a discutir o jogo. Valheu-lhe a alma que nunca podia ter faltado, o coração e a crença, que, até ao 2-0, pareceu tornar possível outro resultado. Mas era pura ilusão. Mesmo assim, goste-se ou não, critique-se ou não o fundo como treinador, o Mundial fica mais pobre sem Diego. Vê-lo na sala de imprensa tão genuinamente triste, é ver futebol da cabeça aos pés, personificado num homem.

Jogadores:
Alemanha - Os elogios repetem-se, mas não há nada a fazer. Pelo jogo de hoje, mais o que fez contra a Inglaterra, mais tudo o resto, Muller é, neste momento, o Melhor Jogador do Torneio. Classe, classe e mais classe. Lê sempre bem, chega primeiro, é rápido, tem técnica, é inteligentíssimo, e assiste até quando está no chão e tem 3 adversários à volta. Palavras para quê? Depois Schweinsteiger, um comboio permanente, certamente o melhor box-to-box da competição, e alguém que, com formação de extremo, parece que nasceu ali. E a jogada do 3-0, deus. Podolski mais Ozil a bom nível, com mais Podolski hoje, e Klose claro, a garantir que metade das bolas que lhe caem ali acabam na baliza. Viva a Mannschaft.

Argentina - Despediu-se Messi sem glória. Não tinha marcado, mas andava a jogar muito futebol. Faltava-lhe o nirvana, e o nirvana não chegou. Uma sentença dura este Mundial para todos os grandes da actualidade, com Ronaldo, Kaká e Rooney, ainda que Messi tenha jogado mais que qualquer deles. Maxi Rodriguez, meio médio direito, meio médio centro, terá sido o jogador mais acertivo da equipa, num meio-campo com um único jogador fixo. Por último, Tevéz que devia ser titular para a vida.

Espanha - Paraguai, 1-0

Depois do jogo, sinceramente, fica a frustração por Portugal ter caído aos pés duma Espanha tão distante do que fez em 2008. Sim, a qualidade individual continua lá, os princípios continuam lá, mas esta Espanha já não é acutilante, já não joga sozinha em campo, e é francamente vulnerável ao que lhe aparece na defesa. Mesmo um Paraguai desfalcado, que nunca deslumbrou ao longo da prova, foi capaz de evitar o domínio espanhol, de deixar a equipa de Del Bosque nervosa, e teve um momento crucial para marcar, que teria largado no espaço o jogo espanhol. Cardozo falhou o penalty, como falhou sob pressão muito mais do que devia ao longo da época, e o Paraguai, mesmo com a estrelinha que foi a Espanha falhar também ela um penalty no minuto seguinte, viu a sua janela no jogo desaparecer aí. Mesmo por linhas tortas, mesmo no sofrimento, os espanhóis foram crescendo no jogo, a par do recuo paraguaio, e, com Iniesta a pensar quase a solo, como o tem feito quase sempre, foi Villa Villa Maravilla a arrumar o jogo outra vez. Ainda assim, a Roja vai precisar duma espécie de milagre para sobreviver à Alemanha.

Jogadores:
Espanha - Se dúvidas houvesse, é ele o melhor jogador espanhol da actualidade, e o melhor avançado da prova. A Espanha anda a jogar muito menos, mas com Villa pode sempre contar, a qualquer altura. Iniesta, outra vez mais do que Xavi, tem feito o resto.

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