terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Candidatos. Um terço de Liga


8 vitórias e 2 empates, ambos a melhor defesa, praticamente ambos o melhor ataque (ganha o Porto 26-25), 9 pontos de avanço para o terceiro. O Braga e o último dia do mercado eram os factores que poderiam perverter a esperada Liga a dois, mas não foram que chegue.

A segunda versão do Porto de Vítor Pereira tem deslumbrado, e meteu o esboço a um canto. Não fosse a gestão infeliz que contribuiu para a eliminação na Taça, a folha com requintes de realeza estaria imaculada, destacando-se, obviamente, a campanha digna de grande europeu na Champions, que se espera possa ser selada com a vitória no grupo em Paris. Escassos meses depois, não há quem fale de Hulk e, pelo peso que o Incrível tinha, isso é uma monstruosidade. Mais ou menos como a época que James, o MVP da Liga, está a fazer, ele que quase bebeu sozinho o vazio do antigo companheiro. Na cabeça do ataque, Jackson veio, com capa de super-herói, preencher as carências traumáticas do ano passado, logo com sotaque colombiano para lembrar os bons tempos. Moutinho e Varela voltaram à boa forma, Helton e Lucho tornam tudo fácil, e tem crescido muita gente, Otamendi, Danilo e Alex Sandro em especial. De repente, tudo parece bem, até o discurso e a postura do treinador, e tal como era ele o problema no ano passado, não há como negar hoje o valor do trabalho de Vítor Pereira.

Tal como a Jesus. Os últimos dois anos foram violentos a nível interno, e as derrotas feias para o grande rival, sobretudo a catástrofe do ano passado, com um Porto que só gatinhava, pareceram, no Verão, empurrá-lo para a porta de saída. O Benfica, porém, pesou os prós e os contras e, lembrando os traumas do pré-Jesus, e dando o justo valor ao que se fez, resolveu manter no cargo um homem que, para os cofres do clube, tem sido um Midas: Di María, David Luiz, Coentrão, Javi, Witsel, todos evoluções de autor, com um recibo de 150 milhões de lucro, coisa que só era costume ver-se lá mais para Norte. Mais um título e duas grandes campanhas europeias. O Porto continua a ser favorito, mas na prática o Benfica tem respondido com toda a propriedade. Aliás, é impossível não fazer uma vénia ao trabalho de Jesus nestes 3 meses de época, depois do fecho de mercado ter-lhe deixado uma bomba no colo. A provável eliminação da Champions foi uma derrota pessoal sua (a obsessão por desequilibrar ofensivamente a equipa foi a morte em Moscovo), mas as competições europeias estão asseguradas, a Liga vai tão bem como possível, e, num Benfica que se descaracterizou muito individualmente, Ola John e o tão malfadado Melgarejo são pérolas cada vez mais límpidas, a que se juntam a fiabilidade de Artur, Garay e Cardozo, e a extrema mais-valia de Lima. Para como poderia ter corrido, o trabalho de Jesus foi notável.

Finalmente Peseiro. Depois do que o Braga já jogou este ano, o desfecho actual é quase brutal. Entrar na Champions, correr com os de cima quase a tempo inteiro, inundar de futebol o Teatro dos Sonhos, quase poder tocar em tudo, e depois perder quase tudo. É ingrato, mas a sorte e o azar no futebol são só um pormenor, e, independentemente de todos os méritos que tem, toda a carreira de Peseiro foi assim. Ter entrado na Champions é uma vitória que lhe deve ser reconhecida. No entanto, perder os jogos grandes no campeonato, perder duas vezes com o United depois de estar a ganhar, e, sobretudo, perder duas vezes para um Cluj que é pior do que o Braga, cujos jogadores dificilmente jogariam no Braga, e, ainda por cima, ficar fora da Europa num grupo simpático, é tudo tão grave quanto palpável. O projecto Braga fez-se dos jogos que não eram supostos ganhar; já não há volta, e não se pode, sejam quais forem as minudências do jogo, falhar naqueles em que, agora, se exige melhor. A equipa continua a ser favorita ao 3º lugar, e tem as Taças, nomeadamente a excelente posição na prova-raínha, às quais se agarrará com tudo, até porque o primeiro troféu da era Salvador teria um peso muito especial. A verdade é que, daqui para a frente, fica a sensação de que o Braga já só tem a perder, e de que já só pode minimizar os danos. Peseiro terá de correr pela vida até final do ano, e isso não é confortável para ninguém, muito menos para ele.

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