sábado, 22 de dezembro de 2012

O Real não está à espera da Champions, está à espera do que vier depois de Mourinho


Não é só o campeonato já estar morto, enterrado e em ossos. É toda a gente ali já ter fechado a porta e apagado a luz. Nos dias que correm, o Real só ganha um jogo se o adversário não quiser rigorosamente nada com aquilo. É um rival de sonho, uma equipa frustrada e conformada, sem agressividade, sem vontade e sem génio, que assiste passiva às dúzias de golos que sofre, e que está quase a deixar de ir jogar fora do Bernabéu, para ao menos poupar o dinheiro das viagens.

Havia quem acreditasse que o campeonato perdido em Novembro não era insustentável, porque ainda havia a Liga dos Campeões, e porque, para o madridismo, ganhar a Décima era mais do que ser campeão. Os últimos jogos, porém, deixaram tudo dolorosamente claro: num clube como o Real, deixar a época em espera durante 3 meses é uma impossibilidade. E se já é difícil manter o balneário mais difícil do mundo colado quando as coisas correm bem, a mal torna-se tudo simplesmente penoso. Vê-se na sala de imprensa, e vê-se, sobretudo, no campo, que aquele balneário, Mourinho já o perdeu. Ao contrário do Chelsea ou do Inter, ali não mora "a sua gente". Ali são poucos os que se sacrificariam por ele, porque o balneário do Real é um contrato de trabalho, sempre o foi: faz-se o melhor, porque isso é o melhor para todos, mas não se segue ninguém por lealdade ou por camaradagem. Não há química, há negócios, e se as coisas correm mal, é preciso mudar.

Não estou a demonizar nada, estou a constatar que é assim que funciona, e Mourinho, antes de todos, não estará chocado com isso. Há clubes para gratidão, para carisma ou para militância; no maior clube do mundo, no entanto, it's just business. Quando o barco perdeu o rumo, Mourinho recusou-se a ser cozido em lume brando. Foi igual a si próprio, como seria de esperar, e canalizou tudo para o tratamento de choque que, se calhar, até era a única coisa que podia ter resultado. Falhou, e ver hoje Casillas a assistir do banco a mais um descalabro, tem o peso das imagens finais.

Não havia tempo a nível desportivo, e já não há espaço a nível humano. Mourinho costuma ser a chave; quando não é, não há meio termo. A sua aventura em Madrid acabou. Acaba mal, mas o tempo fará justiça ao muito que conseguiu. Certo é que, hoje, está sozinho, e isso não é coisa contra a qual possa lutar.

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