segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Sherlock (2010), seasons 1-2


Um Sherlock Holmes no século XXI é uma daquelas ideias que soam boas desde a primeira hora. Com a BBC a fazer as honras, o resultado era inevitável: a série é um verdadeiro tratado de realização, espectacularmente filmada, muito bem editada e com uma assinatura moderna de requinte. A storyline emana dos escritos de Sir Arthur Conan Doyle, que só conhecia nos traços mais gerais do senso comum, mas a transposição do texto para os nossos dias foi perfeitamente feliz. Estão completas duas temporadas, de três episódios cada (1h30), e a season 3 já foi confirmada para 2013.

Holmes surge, aqui, mais isolado, psicótico, anti-social, quase intratável, e sobrenaturalmente dedutivo. A personagem, e falo por associação com outras representações, é bastante exponenciada, o que lhe dá um carácter ainda mais peculiar. Benedict Cumberbatch assume o papel com uma quase vocação. Conheci-o em Tinker Tailor Soldier Spy, onde, para mim, foi a evidência do elenco, e aqui, o seu afastamento da realidade, o seu olhar às vezes vítreo, a sua psicose e a maneira como experencia a acção chega a ser impressionante.

Martin Freeman injecta densidade na personagem de Watson que, com ele, se torna notavelmente séria e empática. Deixa altas as expectativas para O Hobbit. Lara Pulver, na pele da notória Irene Adler, só tem um episódio, mas passa por ele como um furacão. E nenhum elogio faria sentido se não incluísse a performance extraterrestre de Andrew Scott como Moriarty. A sua insanidade genial, excêntrica e inacompanhável está ao nível do Joker de Ledger, é icónica. Já lhe rendeu o BAFTA deste ano, mas o Globo de Ouro é o reconhecimento que se exigia.

Sherlock, já com 17 nomeações aos Emmys, vale absolutamente a pena. Pelas personagens, pelo nível de execução, e pelo enlace das histórias, que já rendeu autênticas pérolas de episódios. Pessoalmente, só tem um grande senão: a falta de coragem do argumento. Estamos a falar de um produto histórico, mas, para mim, são as decisões feias que separam as grandes histórias das brilhantes, e este Sherlock, com todos os méritos, não evita ficar um pouco aquém do que podia ser.

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