terça-feira, 2 de outubro de 2012

Somos isto?


"Esclarecemos que ante a recusa de uma maior autonomia no seio da Pátria Portuguesa, que desejamos fortemente, optamos pela separação. (...) Desafiamos o Estado português para, em caso de dúvidas, ter a coragem de assumir uma decisão democrática e permitir um referendo na Madeira que, de uma vez por todas, demonstre a vontade do povo madeirense"

Moção de AJJ para a sua reeleição como líder do PSD-Madeira

É triste que, para boa parte dos portugueses, a Madeira não seja mais do que isto. Não temos nada uns contra os outros, não temos nada que nos diferencie. Isso, porém, não é coisa que faça jeito a caciques que se queiram perpetuar no poder. Assim, a guerrilha de eternização de Jardim tornou-se na guerra da Madeira contra o Continente. Tornou-se nas patacoadas sobre o povo superior, instigado de medo e de revolta contra esse temível inimigo externo chamado Lisboa, cujos governos, só por acaso, perdoaram TODAS as bancarrotas que Jardim tão extraordinariamente conseguiu acumular, coisa que, no fundo, só significa que querem fazer disto um Tarrafal ou uma Área 51. Às armas, madeirenses, que a República quer fazer-nos pó. 40 anos desta dialéctica imbecil é tudo o que passa.

Jardim vai morrendo aos poucos, e, entre portas, este é o discurso para radicalizar uns quantos ignorantes, não mais do que isso. Claro que a maioria dos madeirenses não quer ser independente. O problema é que esta é a demência na qual metade deles votaram. Boa parte desses finge que não ouve, com um sorriso envergonhado, não lhe dá importância, mas esta estupidez irresponsável, em tempo de crise, é exactamente o tipo de coisa que faz as outras pessoas perderem a paciência. Claro que a maioria dos madeirenses não quer ser independente. Infelizmente, e por culpa nossa, acho que a maioria do país já não tem a mesma opinião.

Este delírio bafiento surge, novamente, porque daqui a um mês o PSD-Madeira vai a eleições e, pela primeira vez, como já escrevi aqui, Jardim terá um adversário. Assim, há que voltar a polir a demagogia. Na sua brilhante moção, o chefe também reafirma a habitual capacidade para lidar com a rotatividade de poder, quando pergunta "à consciência dos filiados no PSD, se nos vamos suicidar politicamente só para seguir as leviandades e oportunismos? Vamos entregar o PSD-M a um testa-de-ferro dos nossos inimigos políticos?". Aqui, e pela primeira vez na história dos dicionários portugueses, testa-de-ferro define-se como alguém que pensa pela sua própria cabeça. A isto, soma o seu tradicional apego à democracia, acrescentando que "tem de ficar muito claro que os derrotados agora devem ser afastados [do partido] nos termos estatutários". O discurso, como vemos, está sempre a modernizar-se.

No dia 2 de Novembro, votam no futuro líder do PSD Madeira cerca de 3500 afiliados. 2% de madeirenses têm a primeira verdadeira possibilidade de depor Jardim. A queda é improvável, claro. Na Madeira, porém, essa mera possibilidade de mudança é mais valiosa do que uma Revolução.

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