segunda-feira, 7 de novembro de 2011

É verde-rubro o sonho


Não é todos os dias que se é a equipa-sensação da Liga.

Este ano então é quase como andar sobre as nuvens. Disse, mais do que uma vez, que este era um dos piores plantéis do Marítimo que me lembrava de ver, e estava absolutamente consciencializado para uma época de sacrifício e sofrimento. A equipa passou ao lado da última Liga, ficando na segunda metade da tabela e, como se não bastasse, perdeu 5 titulares, entre eles Boeck, Djalma e Kléber, os melhores do plantel. Em crise financeira, o orçamento foi reduzido num terço e a capacidade negocial esfumou-se. Sem dinheiro e com a habitual dificuldade em mover-se no mercado, Carlos Pereira deu uma verdadeira salva de tiros nos pés, novela que teve o seu auge às portas do início do campeonato, com a dispensa de três "reforços".

No onze que começou a Liga, e que se sedimentou até agora, não há ninguém estranho à casa. Olberdam é o único "reforço", mas só porque estava emprestado. Jogam 5 titulares do ano passado, 3 dos suplentes e 2 miúdos desse projecto excelente que tem sido a equipa B. No ano passado, por esta altura, estávamos em 13º, com 1 vitória em 10 jogos... e um plantel indiscutivelmente mais rico. Hoje estamos isolados em 4º e acabámos de bater o recorde do clube de jogos oficiais seguidos sem perder (10), depois de uma razia e sem um único reforço. Mais do que isso, a equipa joga um futebol farto e contagiante, tem uma confiança e uma saúde incríveis, e parece imparável nos dias que correm.

Num grupo extraordinariamente humilde e solidário, há o virtuosismo do tropical trio de ataque (Sami, Danilo e Baba, um guineense, um brasileiro e um senegalês), e os golos deste último claro, o único anel que sobrou. Mas os louros são forçosamente de um homem em particular: Pedro Martins.

Resgatado à equipa B no início da época passada, e sem experiência prévia de relevo, o antigo médio do Sporting teve um ano difícil. Um bom plantel sim, mas que era ao mesmo tempo uma bomba-relógio, especialmente pela corte do Porto às duas estrelas da equipa, que teve efeitos desastrosos no balneário e no campo. Percebia-se o futebol positivo, os bons princípios, mas era complicado saber se Pedro Martins poderia mesmo fazer a diferença. Em ano de austeridade, ficou. E inventou um equipão do nada.

Ninguém dava nada por este Marítimo. O treinador não era consagrado, os jogadores foram só o grupo possível, mas hoje, em campo, parecem uns campeões. Este Marítimo joga para ganhar em todo o lado, tem fome de bola e gosta de levar tudo à frente. Ao mesmo tempo é uma equipa unida e solidária, que sabe sofrer, e que assenta numa prodigiosa capacidade de superação.

Os jogadores desfazem-se em elogios a Pedro Martins - Danilo, Baba, Olberdam - e, nós, de fora, rebentamos de orgulho. Esta equipa é um exemplo. É a prova de que é sempre possível, e de que toda a gente pode conseguir. Durante a nossa História tivemos de lutar contra todo o tipo de estigmas. E chegámos ao campeonato nacional, à final da Taça e à Europa, e afirmámo-nos como clube de referência no país. Hoje, sem estrelas, sem dinheiro e sem esperança, voltámos à nossa essência. Voltámos a lutar, e estamos a conseguir.

Este é o meu Marítimo. Quem é um de um grande nunca vai perceber o gozo que isto dá.

Sem comentários: