terça-feira, 5 de junho de 2012

Europhoria


Espanha como candidato natural, obviamente. La Roja pode ser a primeira selecção da História a fazer um triplete (Euro-Mundial-Euro), e, quatro anos depois, mantém-se em estado de graça. Faltam dois figurões como Puyol e Villa, e a equipa teve alguma ressaca no pós-África do Sul (goleadas nossa, da Argentina, etc), mas arrancou para uma qualificação de 8 vitórias, não perdeu um metro nos amigáveis, e chega com um grupo que, mais ou menos beliscado pela rivalidade Barça-Madrid, garante uma rotação altíssima. Por alguma razão nunca ninguém ganhou a tal tríade de títulos, mas esta selecção espanhola não parece definitivamente em fim de ciclo, e a presença nas meias-finais será quase uma formalidade. Depois há muito mais a ter em conta, mas a equipa de Del Bosque é o favorito número 1, sem qualquer dúvida.

Depois, a Alemanha. Parece-me, isoladamente, a segunda selecção mais forte do torneio. Vice-campeã em título, 3ª no Mundial, tem uma geração extraordinária de futebolistas, muitos deles novos, que ainda não ganharam nada, e que estão consumidos por isso. Se na Espanha pode pesar o que já se fez, para a Alemanha não há nada que chegue. Junte-se isso à sua histórica mentalidade, e temos, se calhar, o único candidato que pode realmente pôr os espanhóis em cheque. Para mim, além de tudo mais, jogam o melhor futebol do continente.

Em terceiro, a Holanda de Van Marwijk, depois do estrondo de campanha na África do Sul, e de uma qualificação quase imaculada de vitórias. Não sei se será exagero dizê-lo, mas, do meio-campo para a frente, é provável que os holandeses sejam o grupo mais talentoso da competição. A esse talento, juntaram, no último Mundial, um cinismo resultadista que só parou na final. Será uma equipa sempre temível, mas que, ao contrário de Espanha e Alemanha, já me deixa algumas dúvidas: não sei até que ponto o jogo pragmático e seco de Van Marwijk pode resultar tão efectivamente como há dois anos. Para nós, talvez até seja mais "fácil" jogar com a Alemanha, de peito aberto, mas a nossa porta para os quartos é ser melhores do que o jogo holandês.

Os favoritos reais acabam aqui. O Euro pode dar em muitas coisas, mas se nenhum destes três for campeão europeu, então teremos passado por uma hecatombe qualquer. Quanto aos outros históricos: França e Itália não fazem um bom torneio desde 2006 (como nós, curiosamente), desde a final que jogaram ambas no Olímpico de Berlim. Sem espectacularidades, a França surge melhor. Fez uma qualificação modesta, está muito longe da pujança do início da década, mas tem um treinador jovem e de qualidade, e chega com algumas figuras vindas de uma época excelente (Ribéry, Benzema). É o favorito claro do seu grupo, e a sua presença nas meias-finais seria natural, ainda que não seja nenhum dado adquirido. Mais do que isso, era surpreendente.

Com Prandelli, a Itália também parecia refazer-se, a pouco e pouco, da catástrofe na África do Sul, mas a bomba de um novo Calciocaos, que explodiu nas últimas semanas, põe tudo em causa. O onze apoia-se na época notável da Juve (a defesa, mais Pirlo e Marchisio), tem o laivo de génio de Balotelli, que pode dar para tudo, mas, com tamanha pressão, a Azzurra não é mais do que uma grande incógnita, e tem o 2º pior grupo da competição. Irónica, ou misticamente, da última vez que houve um escândalo de corrupção no Calcio... o resultado foi um título mundial.

Finalmente, a Inglaterra, a tragédia que não acaba. É, de todos os grandes, quem chega ao Euro em pior estado: 4 titulares lesionados, Rooney suspenso 2 jogos e, sobretudo, Capello despedido estapafurdiamente há meia dúzia de meses, com o veterano Roy Hodgson a ser o que se arranjou. Para surpreender, a única esperança para a selecção dos Três Leões residirá na surpreendente nova geração de futebolistas que se afirmou este ano: Young, Chamberlain, Carroll, Phil Jones, Welbeck. Sinceramente, porém, é de esperar o pior, e se der para bater a Suécia e chegar aos quartos, a campanha já não terá sido mal sucedida.

No resto, a Rússia volta a surgir muito promissora num Europeu, como há quatro anos, e pode voltar a surpreender, depois de ter falhado o último Mundial. A Grécia de Fernando Santos parece-me o segundo melhor outsider, e é quem deverá acompanhar os russos para os quartos. No grupo de espanhóis e italianos, também merecem atenção o futebol sempre perfumado dos croatas, e a manha da Irlanda de Trapattoni.

Como não podia deixar de ser, ficam aqui as apostas:
Meias-finais: Portugal-Espanha e Alemanha-França.
Final: Espanha-Alemanha, e a Mannschaft é campeã da Europa.

Acima de tudo, que o Euro valha a pena. 

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