quarta-feira, 27 de junho de 2012

Perdemos


Às vezes, o quase chega. Desta vez devia chegar. Até onde fomos, por deus. Da selecção de cacos que empatou 4-4 com Chipre, no início da qualificação, até àquela cruz verde e vermelha a luzir enquanto púnhamos o Campeão do Mundo a jogar a final do Europeu nos penalties. Até onde fomos. Houve o circo, a preparação-catástrofe, a derrota com a Alemanha e o milagre com a Dinamarca, houve o Paulo Bento dos casos, o Ronaldo dos falhanços, e os pseudo-intelectuais todos a explicar que, no fundo, não éramos bons o suficiente, para, no fim, estarmos a 10 minutos e a dois postes de aterrar na final maldita que falhámos pela 6ª vez. Paulo Bento fez um trabalho excepcional, e tivemos a honra de ver uma equipa notável concretizar-se aqui, uma equipa que nos deixou aterrados de tão perto que estivemos. A equipa com a qual era possível. Podíamos perder este jogo mais 10 vezes seguidas, que era possível. Podia ter caído nosso, no último contra-ataque ou no último penalty. Até onde fomos, por deus.

Mas às vezes, como hoje, o quase não chega. Não me levem a mal, eu tenho todo o orgulho neles. Mas hoje não posso só gostar de ser português, de ter feito tudo, de ter ido longe, não posso ter só orgulho neles. É que ficar conformado com esta derrota, um segundo que fosse, era insultar o que esta equipa pôs em campo. Tenho todo o orgulho neles, mas hoje não posso ficar feliz pelo que eles conseguiram. Hoje o quase não chegava, hoje não era o dia de sermos os campeões morais. Hoje precisávamos que fosse nosso, eles podiam tê-lo feito nosso; se perdemos, perdemos tanto quanto se podia perder. Hoje não estamos orgulhosos, porque não ganhamos; hoje, a nossa maior honra é estarmos frustrados e impotentes e desolados porque perdemos. É que só perde quem pode ganhar. Nós pudemos. Hoje não temos de estar orgulhosos. Um bom perdedor é perdedor a vida inteira.

Sem comentários: