domingo, 10 de junho de 2012

O nosso Euro #1: Só não fomos melhores do que o nosso fado


Alemanha-Portugal, 1-0

Derrota estúpida, e que não merecemos absolutamente.

Não há pior do que perder assim. Estivemos ao nível, quando havia tantas dúvidas, fizemos tanto pela vida, merecemos tanto ser felizes. Perder com a crueza de sempre é desolador.

Não estou a dizer que fizemos uma exibição perfeita. Podíamos ter querido mais do jogo na primeira parte, faltou fluidez ao miolo, e falhou o ataque. Poder-se-á sempre dizer que foi preciso precisarmos para ir atrás. Mas veja-se o respeito que a Alemanha pôs em campo: não vimos a equipa vertiginosa e elástica da África do Sul, mas um adversário avisado e despretensioso, que nunca caiu no erro de nos experimentar. Mérito deles. Nesse respeito mútuo, que se calhar surpreendeu muita boa gente por cá, acho indiscutível dizer que soubemos estar, e que merecíamos necessariamente mais.

Podia ter caído para qualquer lado. O problema foi um ressalto cair primeiro em Goméz, e duas bolas nossas caírem na trave, e outras duas na pequena-área caírem num muro alemão. Não foi só azar, como nunca é; mas para ganhar também é preciso estrela, e essa hoje não quis nada connosco.

Devemos orgulhar-nos do que provámos poder fazer, mas que fique a lição de que não chega. Temos de ser melhores do que a sorte, melhores do que o nosso próprio jogo. Temos de saber ganhar. Precisamos de nervo suficiente para que uma oportunidade seja o bastante para ganhar um jogo, precisamos de cultura de vitória à flor da pele, e precisamos dela já.

Em 2000 banalizámos a sorte e o azar, e deixámos de ser uma selecção de vitórias morais. Agora, precisamos de ganhar à Dinamarca e à Holanda, simplesmente porque não temos alternativa. Simplesmente porque não o podemos voltar a ser.

Portugal - Sinceramente, Ronaldo foi o melhor. É normal dizermos que na Selecção não rende, que não quer nada com isto, que está sempre à margem de si próprio. Hoje até pode não ter tido a produção mais alta, mas foi o farol que alumiou o caminho, e quase tudo o que fez, fê-lo bem, o que é dizer muito num jogo destes. A rematar, a assistir, a arrastar a equipa. Foi o que precisávamos que ele fosse, e provou que podemos contar com ele.

No "modo-Mundial", Coentrão voltou a ser excepcional. Mordeu quem lhe apareceu à frente, e depois pareceu possuído a descer aquele franco, capaz de tudo. Pepe, enfim... é um gigante, hoje, como na última época, um dos 2 ou 3 melhores centrais do mundo.

De um meio-campo a espaços dormente, sobressaiu Moutinho na 2ª parte, a pôr a bola no chão e a dar a cara pelo jogo. Mas pede-se mais ao miolo, e a Meireles em particular. Também Nani foi de menos, e a equipa ressentiu-se. Postiga revelou-se má opção para um jogo de força e profundidade. Nota para Nélson Oliveira: pouco tempo, mas um nó cego que por milagre não deu o golo de Varela. Merece mais minutos.

Alemanha - Aquele cabeceamento de Goméz valia o bilhete. Execução fantástica de um ponta-de-lança fantástico, a ser o pormenor de talento que decide os jogos grandes. Depois a disponibilidade de um Khedira todo-o-terreno, a parecer que começou a época agora, e o abre-latas Ozil, numa exibição de menos dos outros médios-ofensivos. Atrás, Neuer é um seguro de vida, o tipo de guarda-redes que defende aquela única bola que pode mudar o destino do jogo. Fê-lo hoje, uma vez mais. Também Hummels provou o que de bem se diz dele na Bundesliga. Grande central.

1 comentário:

Duarte Caires de Faria disse...

Um jogo estratégico onde o primeiro golo revolucionaria tudo. No entanto nem foi tão linear quanto isso.
Portugal entrou em campo à espera de uma Alemanha fortemente atacante, o que não aconteceu... ficando ambas as equipas à espera do erro como já disseste acima.

Mas a chamada de atenção ocorreu no final da primeira parte, quando Portugal ficou mais perto que nunca de um golo nos últimos tempos(já lá vão muitos minutos). A Alemanha recolheu e voltou igual. Portugal, finalmente acreditou e foi para cima do jogo, com as dificuldades normais num duelo entre grandes equipas... tendo conseguido estar por cima o tempo todo. Porque o golo alemão não resultou de nada mais que eficácia total numa oportunidade gerada por erros defensivos de Portugal...

O golo veio mostrar o inevitável, e caímos em cima, destacando o excelente trabalho de todos os jogadores. Diria que apenas dois jogadores estiveram menos bem, Hélder Postiga que rapidamente comprometeu-se levando um amarelo bem torrado e depois João Pereira que nunca conseguiu impor a sua presença no sector defensivo. O Sporting não é a selecção, tal como a Liga Portuguesa não é o Euro e há que usar melhor a cabeça para um correcto posicionamento.

A esperança é a ultima a morrer, num momento em que esperamos mais nos próximos 2 jogos do que foi feito ao longo deste ano (dois empates a 0 e duas derrotas frente a Turquia e agora frente à Alemanha).