segunda-feira, 2 de abril de 2012

Californication


"You're not in love with me. You're in love with the idea of love"

Ao contrário do que poderia ser suposto, vou começar por dizer que é a série mais romântica que já vi. É isso o impagável de Californication: a sedução, o romance, a profunda devoção por uma mulher, que racha com quase toda a lógica luxuriosa e sexual do resto, mas que, justamente por isso, dá à série uma aura apaixonante.

Para quem nunca viu, o homem de quem se fala é Hank Moody (David Duchovny). Um galã, bon vivant, escritor genial, ácido e despudorado, que vive, no ambiente da primeira temporada, numa prolongada crise criativa, às expensas da obra-prima que escreveu. É divorciado, vive envolto numa nuvem de cigarros e álcool, é tão brilhante como auto-destrutivo, e é, sobretudo, um deus para o sexo oposto, do qual põe e dispõe com a omnipotência própria de um. Hank podia ter (e tem, valha a verdade), todas as mulheres que quisesse. O carácter sexual, declarado e permanente, é, aliás, uma das caras mais reconhecíveis da série. A classe do texto reside, contudo, na forma peculiar como um personagem tão burlesco fica absolutamente rendido perante a mulher da sua vida, com quem as coisas um dia não resultaram. O inatingível está sempre lá, a celebrar a poesia do romance, daí que, para mim, Californication seja magistralmente isso. Duchovny é perfeitamente icónico, não lhe falta uma unha para materializar Hank Moody, mas Natascha McElhone (a ex-mulher) exala exactamente todo o charme necessário para fazer viver o papel, o que é de altíssimo nível.

Depois há a relação com a filha comum, típica mas bem sacada, e, claro, a cadência de loucos da vida que Hank leva. Um mundo sem limites para um filósofo contemporâneo, um visionário que caminha a par da sua lucidez ácida, que tem uma mulher em cada esquina, tanto quanto é assombrado pelos fantasmas pessoais, pelos erros que cometeu, e pela inevitável falibilidade que o persegue.

A primeira temporada (2007, 12 episódios) não escapa a um tom novelesco que era dispensável, na ponta final, mas ganha-nos, sem sombra de dúvida.

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